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Forças do governo em Aleppo, uma cidade que fiou sob o domínio do Estado Islâmico | GEORGE OURFALIAN/AFP
Forças do governo em Aleppo, uma cidade que fiou sob o domínio do Estado Islâmico| Foto: GEORGE OURFALIAN/AFP

O emissário da ONU Staffan de Mistura tentará nesta quarta-feira (3) em Genebra reativar as negociações sobre a Síria, ameaçadas pelo avanço em terra das forças do presidente Bashar al-Assad em vários fronts graças aos bombardeios russos.

“Um fracasso sempre é possível, particularmente depois de cinco anos de uma guerra horrível”, declarou, na noite de terça-feira o emissário, ao término de um dia de contatos indiretos que terminou em uma grande confusão. “Mas se desta fez fracassarem não haverá mais esperança”, disse em declarações à televisão suíça.

“O nível de confiança entre as partes está próximo a zero”, acrescentou mais tarde em declarações à BBC.

As negociações de paz de Genebra, organizadas após uma forte pressão internacional, têm por objetivo alcançar uma solução política ao conflito, que já deixou mais de 260.000 mortos e milhares de refugiados desde março de 2011.

Desentendimento entre situação e oposição

O governo sírio se queixa de não ter interlocutores sérios para começar as discussões indiretas e exige conhecer a composição de delegação da oposição.

O embaixador sírio na ONU, Bashar al-Jaafari, chefe da delegação governamental, contrariou inclusive as declarações do emissário, que havia informado sobre o início de negociações oficiais. “Ainda estamos na fase preparatória”, declarou na terça-feira Al-Jaafari após duas horas de discussão. “Seguimos esperando para saber com quem vamos negociar e com qual ordem do dia”, acrescentou o diplomata sírio.

Por sua vez, a oposição está em uma situação muito delicada, dividida entre sua vontade de não ficar como responsável de um eventual fracasso do processo de paz e sua negativa em iniciar negociações num momento em que o governo intensifica a guerra.

O Alto Comitê de Negociações (ACN) da oposição, que inclui políticos e militares, cancelou na terça-feira a reunião prevista com Staffan de Mistura no Palácio das Nações de Genebra. A comunidade internacional está completamente cega diante da tragédia síria, em particular perante a amplitude dos bombardeios russos, disse o ACN ao explicar a decisão.

Bombardeios russos

O exército sírio, as milícias populares favoráveis ao governo de Bashar al-Assad e os contingentes xiitas iraquianos, iranianos e libaneses avançaram nos últimos dias em vários fronts, favorecidos pelos bombardeios da Força Aérea russa.

Na província de Aleppo, norte da Síria, as forças governamentais estão prestes a romper o cerco de duas localidades xiitas sírias e bloquear uma das principais rotas de abastecimento dos rebeldes. Há uma semana ocuparam duas importantes localidades na província de Latakia, berço dos Al-Assad e fronteiriça com a Turquia, e avançaram na região de Daraa, perto da fronteira com a Jordânia.

Os russos realizaram 320 ataques desde segunda-feira em Aleppo, matando na terça-feira 18 civis, segundo o Observatório de Direitos Humanos.

A Rússia, no entanto, não pretende interromper sua intervenção militar na Síria até ter vencido os terroristas.

“Os bombardeios aéreos russos não se deterão enquanto não tivermos realmente vencido as organizações Estado Islâmico e Frente Al-Nusra”, o braço sírio da Al-Qaeda, declarou o chanceler do país, Serguei Lavrov, nesta quarta-feira durante uma visita a Omã. “Não vejo por que estes bombardeios deveriam parar”, acrescentou, citado pela agência Interfax.

“Está ocorrendo um novo massacre na Síria e ninguém faz nada, não diz nada, a comunidade internacional está totalmente cega”, acusou, por sua vez, o porta-voz da oposição, Salem al Meslet. “As forças de Damasco e seus aliados estão nos dizendo que o processo político de Genebra não vale nada para eles”, declarou Bassma Kodmani, uma dirigente opositora.

A partir de Roma, onde participava de uma reunião da coalizão contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI), o secretário de Estado americano, John Kerry, exigiu que a oposição siga negociando, apesar dos bombardeios. “Como aceitar uma negociação quando se sofre uma pressão militar sem precedentes?”, se pergunta um diplomata ocidental.

Os russos “atuam na Síria como na Chechênia”, república separatista cuja capital Grozni foi arrasada pelo exército russo há 10 anos, acrescenta esta fonte. A oposição também exige a libertação dos detidos e o fim do cerco de quinze cidades.

As Nações Unidas estimam que 500.000 pessoas vivem em estado de sírio na Síria.

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