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7 manifestantes foram presos ontem pela polícia em Ferguson, Missouri, durante o toque de recolher determinado com o objetivo de acalmar a violência que tomou conta da cidade há dias, depois que um jovem negro desarmado foi morto a tiros por um policial branco.

Segurança

Toque de recolher deve se estender por vários dias, diz governador

Efe

O governador do Missouri, Jay Nixon, afirmou ontem que o toque de recolher em Ferguson pode durar vários dias, mas ele diz ter esperança de que as tensões se reduzam e que justiça seja feita no caso de Michael Brown, um jovem negro morto há uma semana por disparos de um policial branco. "Temos que manter a propriedade da população segura e a paz a fim de conseguir a justiça", disse o governador democrata em entrevista no programa político dominical State of The Union, da rede CNN. O governador declarou no sábado o estado de emergência e o toque de recolher entre 0h e 5h na cidade do meio oeste, onde os protestos se repetiram diariamente ao longo da última semana pela morte do jovem de 18 anos em circunstâncias ainda não esclarecidas. "Esse foi um tiroteio horrível. Ainda não chegamos à justiça e haverá alguns momentos de angústia nos próximos dias e semanas", reconheceu Nixon.

Enfrentamentos, saques e a indignação da comunidade afro-americana. As imagens dos protestos da última semana em Ferguson trouxeram à memória os protestos raciais violentos dos anos 1960 nos Estados Unidos.

Na histórica lanchonete Ben's Chili Bowl de Wa­­shington, que sobreviveu à violência em 1968, nesses dias, a televisão roubou a cena das famosas salsichas transmitindo protestos por outro jovem afro-americano morto pela polícia em circunstâncias ainda não esclarecidas. "É como ver a história se repetir", explica Virginia Ali, que em 1958 abriu o Bowl com seu marido Ben.

A lojinha se transformou imediatamente no reduto de uma comunidade afro-americana que estava em plena luta por direitos civis. O assassinato, dez anos depois, do líder desse movimento, o reverendo Martin Luther King Jr., desencadeou uma onda de protestos raciais violentos em várias cidades – e atingiu com força a capital dos EUA.

"Nós éramos o único comércio da região que tinha permissão para continuar aberto ao anoitecer. Havia de fato um toque de recolher. Embora a situação tenha sido muito mais violenta do que em Ferguson, nossa loja nunca sofreu ataques. Ao contrário, era um lugar seguro de reunião para buscar soluções", relata Virginia.

Um ano antes dos protestos pelo assassinato de Luther King, outra série de manifestações arrasou cidades como Detroit e Newark deixando milhares de feridos, dezenas de mortos e incontáveis danos materiais.

Depois disso, o então presidente americano, Lyndon B. Johnson, estabeleceu uma comissão para analisar a origem dos distúrbios e elaborar recomendações a fim de evitar que voltassem a ocorrer no futuro.

"A polícia deve ser mais diversa, evitar as atuações desproporcionais, viver e se integrar com as comunidades onde reside". Essa era uma das conclusões da Kerner Commission em 1968 e a mesma que se extraiu após os fatos de Ferguson, apesar de entre os dois incidentes ter transcorrido quase meio século.

"A violência policial nos bairros urbanos pobres onde vivem as minorias é quase onipresente, mas os distúrbios são incomuns. Só explodem quando as demais vias para buscar justiça estão bloqueadas; quando os moradores se sentem impotentes", explica Cathy Lisa Schneider, autora do livro Police Power and Race Riots: Urban Unrest in Paris and New York ("Poder Policial e Motins Raciais: Agitação Urbana em Paris e Nova York"), e professora da American University em Washington D.C.

A frustração que a acadêmica menciona é a que mantém os manifestantes nas ruas de Ferguson uma semana depois da morte de Michael Brown por um policial em circunstâncias ainda não explicadas e com versões contraditórias da polícia local e das testemunhas.

A família do adolescente e a comunidade tiveram de esperar seis dias para conseguir que a polícia atendesse as reivindicações e revelasse o nome do agente. No entanto, após esse anúncio, a indignação não fez outra coisa que não fosse aumentar: no lugar de explicar os detalhes do fato e os resultados da autópsia, os policiais centraram a atenção no vídeo de um roubo contra uma loja de conveniências, do qual supostamente o jovem participou e ao qual nunca tinham feito alusão em dias anteriores.

Autópsia

O Departamento de Justiça dos EUA anunciou ontem que realizará sua própria autópsia no corpo de Michael Brown, como parte de uma investigação independente no caso. "Devido às circunstâncias extraordinárias que rodeiam o caso e a pedido da família de Brown", o procurador-geral Eric Holder ordenou que uma equipe médica federal realize uma segunda autópsia no corpo do jovem. A autópsia será realizada "o mais rápido possível" e o exame realizado pelas autoridades estaduais serão também considerados.

ONG

Dois representantes da ONG Observatório dos Direitos Humanos (ODH) viajaram ontem para Ferguson, no meio oeste dos EUA, para estudar a resposta das forças de segurança aos protestos pela morte de Michael Brown. Alba Morales, investigadora criminal, e Natalie Kato, componente da ODH, devem se reunir com membros da comunidade e autoridades locais e do estado do Missouri para documentar os fatos recentes, informou a organização em comunicado. A ODH exigirá uma investigação "crível, imparcial e transparente".

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