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Apoiadores de Benjamin Netanyahu comemoraram a vitória do Likud, partido do primeiro-ministro, nas eleições da semana passada. | Abir Sultan/Efe
Apoiadores de Benjamin Netanyahu comemoraram a vitória do Likud, partido do primeiro-ministro, nas eleições da semana passada.| Foto: Abir Sultan/Efe

Trata-se de um mistério para muitos: a campanha de Benjamin Netanyahu ganhou força quando ele descartou a possibilidade da criação de um Estado Palestino e pareceu determinado a continuar a construção de assentamentos judaicos em territórios ocupados. Então, por que os israelenses continuam apoiando políticas que prometem causar tensão de todo tipo, além de diminuir dramaticamente o caráter judaico do Estado à medida em que o torna inseparável dos milhões de palestinos na Cisjordânia?

Premiê diz o que for necessário para se manter no poder

Conhecido como Bibi, Benjamin Netanyahu é um militante brilhante, que não apenas faz e diz o que for preciso para ser eleito, mas parece confortável fazendo tudo isso. Na última semana de sua campanha, ele se deu conta de que a vitória iria depender mais de seu partido do que de seu bloco. Jogou então seu discurso ainda mais em direção à direita, tomando votos de seu aliado nacionalista, o partido Lar Judaico.

Foi por isso que, na terça-feira, dia da eleição, ele lançou o alerta de que os cidadãos árabes israelenses estavam indo “em massa” para as urnas, o que chocou muitos israelenses e atraiu acusações de racismo. Dias antes, ele havia falado sobre uma conspiração internacional supostamente reunida para “derrubá-lo”. O premiê também declarou que, se reeleito, nunca permitiria a criação de um Estado palestino – sendo que, em 2009, havia declarado o oposto. Depois de eleito, mudou o discurso novamente, dizendo-se a favor da proposta de dois Estados.

O controverso discurso de Netanyahu no Congresso norte-americano contra o acordo nuclear dos Estados Unidos com o Irã, há duas semanas, também foi eficiente para sua eleição. Mortificada pela sua ação, a oposição israelense não pôde discordar do conteúdo do discurso – mas alertou para uma possível crise com os Estados Unidos. A resposta relativamente educada do governo norte-americano significou, pelo menos para os fãs de Netanyahu, que ele tem a situação sob controle.

A resposta está nos detalhes de um enigma tão complicado que a dinâmica da democracia parece quase incapaz de acomodar.

O resultado pode ser diferente dependendo das circunstâncias que forcem uma discussão da questão palestina. A coisa muda de figura se as iniciativas de boicote internacional começarem a afetar a economia de um país que preza por seu alto padrão de vida ou se os europeus, que são os principais parceiros econômicos de Israel, decidirem tomar uma atitude. Outra possibilidade é os palestinos criarem um grande problema de segurança ou os Estados Unidos entrarem com propostas de resolução da questão à força.

A situação também mudaria se a oposição moderada se unisse e lançasse um candidato convincente, após uma sucessão de líderes que não cativaram a população a ponto de elegê-lo primeiro-ministro. O último líder do Partido Trabalhista que deixou sua marca foi Ehud Barak, ex-chefe do Exército, que ganhou as eleições em 1999.

Aqui estão alguns pontos que ajudam a explicar o resultado das eleições em Israel, no qual o partido de Netanyahu, o Likud, ganhou 30 cadeiras das 120 do Knesset, o parlamento israelense, e partidos dispostos a entrar em sua coalizão ganharam outras 37 cadeiras, o que possibilitará a formação de uma maioria.

Netanvahu foi mais direto no discurso para conseguir votosAmos Ben Gershom/ Efe

O valor da Cisjordânia

Poucos israelenses veem a ocupação de 48 anos da Cisjordânia como um conceito puramente nacionalista, ganancioso e antipalestino, embora essa narrativa tenha força na região e ao redor do mundo. Da perspectiva palestina, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza juntas são apenas um quinto da Palestina Histórica – o mínimo aceitável para que reconheçam a existência de Israel.

Mas o que os israelenses veem é uma fronteira pré-1967 (em alusão à Guerra dos Seis Dias), que é basicamente uma linha de cessar-fogo da guerra de 1948-49 que estabeleceu o país.

Dilemas

Primeiro-ministro israelense enfrenta desafios nas relações com diversos países, incluindo os Estados Unidos, tradicional aliado

Governo Obama

Obama aposta no acordo nuclear com o Irã como grande marca de sua política externa neste ano. O rascunho do acordo propõe que Teerã reduza em 40% o número de suas 10 mil centrífugas nucleares. Contrário ao acordo, o premiê israelense, Benajmin Netanyahu, diz que o Irã usa o programa para fins militares e é uma ameaça para Israel.

Estado palestino

Netanyahu já defendeu a criação de um Estado palestino. Na campanha deste ano, disse que em seu novo governo não haverá negociação. Ele voltou atrás um dia depois de ser anunciada a vitória do Likud, mas insistiu na tese segundo a qual o Estado Islâmico representa um perigo muito grande para permitir a criação de um Estado vizinho neste momento.

Estado Islâmico

O grupo muçulmano radical vem crescendo e aumentando suas ações terroristas. Ocupa partes do Iraque e da Síria e tem feito ataques em países como Tunísia, Líbia e Iêmen.

Aliados ocidentais

EUA e Europa ocidental pressionam pela criação de um Estado palestino e pela assinatura de um acordo nuclear com o Irã. São os principais parceiros econômicos de Israel.

Cisjordânia

Ocupada há 48 anos, a região é disputada com os palestinos, que a veem como parte de um possível Estado. O temor é que a área seja ocupada pelo Hamas, que tomou o controle da Faixa de Gaza após a saída de Israel.

Sem a Cisjordânia, Israel tem apenas 15 quilômetros de largura em seu ponto mais estreito. O planalto estratégico paira sobre as cidades do país, totalmente visível em um dia de céu limpo da periferia de Tel Aviv e rodeando três lados de Jerusalém. Os israelenses temem que, se seu Exército sair da região, não serão os palestinos moderados que tomarão a liderança, mas forças ameaçadoras como o Hamas, que tomou o poder na Faixa de Gaza logo após a retirada de Israel, que entregou o território costeiro à Autoridade Nacional Palestina em 2005.

Em diversos momentos, o governo israelense ofereceu aos palestinos a criação de um Estado em quase toda a Cisjordânia, além da Faixa de Gaza. Vinte e cinco anos de negociações parecem resultar da recusa de Israel em aceitar o retorno dos refugiados palestinos e seus descendentes, que agora já são milhões, e a grande dificuldade em dividir Jerusalém.

Fragmentação dos partidos reflete interesses étnicos

A política fragmentada de Israel deixa pouco espaço para manobras. O mapa eleitoral mostra que uma grande proporção dos assentos no parlamento vão quase certamente para grupos sectários e de interesses étnicos. Mais de um terço do novo Parlamento será ocupado por partidos que têm como alvo grupos específicos e seus eleitores não têm nenhum interesse na questão palestina, com exceção da Lista Unida, que é composta pelos partidos árabes e pelo Chadash, um partido misto.

Até os partidos maiores, como o Likud, do premiê Benjamin Netanyahu, atraem grupos específicos. Ele tem sua base na classe trabalhadora, oriunda dos países árabes e com uma tendência conservadora, conhecidos como “falcões”, pois priorizam a segurança do país e a força do Exército.

Ressentimento

Essa parcela da população ainda se ressente dos partidos de esquerda que fundaram Israel e receberam com maus olhos os imigrantes judeus dos países árabes meio século atrás, considerados inferiores e deslocados da tradição cultural europeia.

Além disso, os setores religiosos, alinhados aos partidos de direita, possuem a maior taxa de natalidade do país, e por isso pode-se esperar que sejam uma fonte constante de votos.

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