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Candidatos à presidência da Colômbia participam do último debate, em Bogotá | LUIS ACOSTA/AFP
Candidatos à presidência da Colômbia participam do último debate, em Bogotá| Foto: LUIS ACOSTA/AFP

A Colômbia chega polarizada às urnas neste domingo, quando se realizará o primeiro turno das eleições. De um lado, acusações contra Ivan Duque, do partido Centro Democrático (centro-direita), criticado por ter pouca experiência e acusado de ser um fantoche do ex-presidente Álvaro Uribe. Do outro, Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá, que pertence ao partido Colômbia Humana e já mostrou simpatia pelo ex-líder venezuelano Hugo Chavez.

As redes sociais foram um campo fértil para os partidários dos dois políticos se digladiarem. Mas a expectativa é de que as eleições presidenciais sejam as mais calmas em 50 anos.

O analista Mario Gomez, da consultoria Prospectiva, não vê problemas nesse cenário de polarização. “É algo natural em um cenário pós-conflito, onde não predominarão temas como o processo da paz ou o combate às Farc.” 

Segundo ele, questões que tradicionalmente estão na agenda política de outros países estão dominando o discurso eleitoral: combate à corrupção, saúde, educação, desemprego e segurança. 

“Estas eleições estão sendo um grande divisor na política colombiana”, enfatiza Mario Gomez, da Prospectiva

Os colombianos também estão mais interessados em política. Em um país onde o voto não é obrigatório, 55% dos eleitores ouvidos por uma pesquisa divulgada pela Invamer/Semana/Notícias Caracol, na semana passada, dizem que pretendem ir às urnas. Em janeiro, esse percentual era de 39,8% 

Cenário tranquilo

A expectativa de tranquilidade é um reflexo do que aconteceu nas eleições legislativas de março. Ao contrário do que ocorreu em outros anos, não houve registro de assassinatos de candidatos. O comparecimento nas urnas foi maior: em um país em que o voto é facultativo, o número de votantes cresceu 24,6% em relação ao pleito anterior. 

Leia mais: Incerteza sobre futuro do acordo de paz com Farc cresce durante campanha eleitoral na Colômbia

As últimas pesquisas para as eleições presidenciais apontam que a decisão deve ficar para o segundo turno, programado para 17 de junho. O último levantamento, realizado pela Invamer na semana passada, mostra Duque com 41,5% das intenções de voto e Petro, com 29,5%. Mas o terceiro colocado, Sérgio Fajardo, ex-prefeito de Medellin – a segunda maior cidade do país - e membro da Aliança Verde, vem ganhando espaço. 

O analista da Prospectiva qualifica o cenário eleitoral como aberto e não se arrisca a traçar projeções sobre o que pode ser o segundo turno. “Há muitos indecisos. É um jogo aberto.” 

Processo de paz 

O analista não acredita que uma eventual vitória de Duque acabe com o processo de paz. “Para a Farc, voltar às armas é muito difícil”, diz ele. Entre as justificativas estão a sua desmobilização, que fez com que deixasse de controlar importantes rotas do narcotráfico, uma das principais fontes de financiamento do grupo guerrilheiro. 

Segundo Gomez, o melhor que as Farc tem a fazer é se concentrar no cenário político. O processo de paz estabeleceu que eles tenham dez deputados e senadores. Nas eleições legislativas, foram um fracasso: os candidatos apoiados por eles tiveram 52 mil votos em um universo de 17,3 milhões. 

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Duque é uma figura que agrada mais ao mercado financeiro. Segundo relatório do banco de investimentos Itaú BBA, uma vitória dele provavelmente seria positiva para o mercado, mas seu governo herdaria desafios relacionados ao ajuste fiscal e à implementação do processo de paz. 

Uma das propostas do candidato de centro-direita é reduzir os impostos das empresas, com o objetivo de estimular os investimentos. Mas, para compensar o impacto fiscal negativo, ele sugere cortar gastos desnecessários e combater a sonegação. Duque também pretende flexibilizar as regras para a produção e exploração de petróleo. 

Segunda Venezuela 

Uma das preocupações dos eleitores é de que a Colômbia siga os rumos da Venezuela, que se encontra em uma grave crise institucional. Analistas políticos, entretanto, descartam esta possibilidade, identificada fortemente com Gustavo Petro. 

Um dos fatores que dificultam a “venezualização” do país é o fraco desempenho da esquerda nas últimas eleições legislativas. Os grandes vencedores foram os partidos de direita e centro-direita, que tendem a apoiar Duque. 

Eles conseguiram a maioria, ocupando mais de 60% das cadeiras no Legislativo. Relatório do Santander, divulgado no final de março, aponta que este resultado possibilita a manutenção da política fiscal e do atual arcabouço macroeconômico. 

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Outro aspecto que dificulta que o país andino siga os caminhos venezuelanos é a característica pessoal de Gustavo Petro. “Por si só, ele não tem condições de mudar o sistema colombiano”, destaca Gomez, da Prospectiva. Ele é classificado como uma pessoa que tem uma personalidade complexa e que problemas para trabalhar em equipe. 

A agenda de Petro prevê a redução do déficit fiscal, por meio da criação de novos impostos, que atingiriam principalmente grandes proprietários de terras improdutivas, e suspendendo algumas isenções. Ele também defende maiores investimentos com educação e saúde.

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