• Carregando...

13 anos: essa é diferença de expectativa de vida entre quem mora num bairro vizinho ao centro de Curitiba (Água Verde) e quem mora na Vila Grécia, em Almirante Tamandaré, na região metropolitana. O apontamento é de uma pesquisa do Atlas do Desenvolvimento Humano da ONU (Organizações das Nações Unidas), divulgada também pela Gazeta do Povo no início de dezembro do ano passado.

O dado, que assusta, é mais uma amostra de que uma boa política de saúde depende de ações conjuntas, intersetoriais e entre as diferentes esferas de governo, visto que o local de moradia, entre outros fatores (como o local de trabalho e meio de locomoção), é determinante para o acesso à saúde ou à doença.

Na pesquisa da ONU, fica evidenciado que fatores como renda, acesso ao saneamento básico e acesso à educação são os que acabam por definir quem vai ficar doente e quem vai ter uma vida saudável. Por conseguinte, fica também evidente para onde devem rumar as políticas de prevenção e promoção da saúde.

Isso nos deve trazer uma reflexão acerca do modo como estamos fazendo esta prevenção e promoção da saúde. Apesar de essas políticas terem crescido ao longo dos anos e estarem previstas na legislação brasileira, através do SUS, o foco delas precisa ser alterado. Atualmente, elas são feitas, como regra, de maneira individualizada, dissociada dos locais de moradia e trabalho de quem é o alvo dos programas e, na hora do atendimento em ambulatórios, quando "dá tempo". E, na tevê, são apresentadas "receitas" que acabam por ser úteis a segmentos muito restritos da população.

Entendo que o desafio colocado a nós, trabalhadores do setor da saúde, é fazer com que o sistema de saúde seja um potencializador para as demais políticas sociais, como moradia, saneamento básico e educação, que podem alterar este quadro. Ou seja, não devemos apenas lamentar que as "demais áreas não funcionam". Até hoje, o "setor saúde", com honrosas exceções, optou por atuar isoladamente. Era o "possível" dentro de governos fatiados entre aliados do mandatário de plantão e com um histórico de afastamento entre as secretarias e ministérios.

Nosso sistema evoluiu muito a partir de 1988, quando as concepções de prevenção e promoção foram incorporadas à Constituição, assim como as de gratuidade, universalidade e integralidade. Muito se avançou e algumas doenças e enfermidades hoje existem apenas em livros de História.

Mas chegamos ao limite desse formato. Agora, é preciso tentar o impossível: atuar para diminuir decisivamente a desigualdade econômica e social. Para tal, precisamos que todos os locais possam ter 100% de saneamento básico (como no Água Verde) e precisamos da diminuição da jornada de trabalho, aumentando o tempo livre da maioria da população para a realização de exercícios.

É hora de o SUS dizer que, além de tomar os remédios, é preciso reivindicar moradia, acesso à educação, trabalho digno e saneamento básico. Desta forma vamos virar significativamente o quadro da saúde pública brasileira.

Bernardo Pilotto, é sociólogo formado pela UFPR, é mestrando em Saúde Coletiva pela Unifesp.

Dê sua opinião

Você concorda com o autor do artigo? Deixe seu comentário e participe do debate.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]