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O lado bonito da economia quase não sai nos jornais. É o lado da filosofia econômica e das teorias que explicam o funcionamento do sistema. Uma teoria que me agrada como ferramenta de descoberta e conhecimento é a chamada “teoria dos impactos”, a qual estuda como uma variável econômica afeta o sistema todo à medida que essa variável se altera.

Sabe-se que a melhoria do padrão de vida de um povo depende do aumento dos bens e serviços produzidos por esse mesmo povo. A produção nacional resulta do desempenho das três entidades econômicas internas: pessoas, empresas e governo. A quarta entidade é o resto do mundo, que tem influência na produção interna a depender da forma como o país se relaciona como o mundo.

Para se obter aumento da produção nacional é preciso haver aumento do produto por hora de trabalho humano. É a tal produtividade. Os fatores de produção são os recursos naturais, o trabalho, o capital e a iniciativa empresarial. Um fator importante no funcionamento do sistema e na elevação da produtividade é o conhecimento tecnológico envolvido em todo o processo produtivo. A tecnologia, por sua vez, cresce por meio das inovações.

Há inovações que, apesar de fazerem muito barulho, não tiveram impacto relevante

Um tema interessante é: como as inovações impactam a produtividade? Há muita confusão por aí sobre esse ponto. Há inovações aparentemente banais que tiveram enorme impacto na produtividade. Há outras que, apesar de fazerem muito barulho, não tiveram impacto relevante. As três inovações (ou invenções) de altíssimo impacto na produtividade e no bem-estar da humanidade foram a eletricidade, o antibiótico e a água encanada.

Robert Gordon, economista estudioso do assunto, afirma que a era das inovações revolucionárias já passou. Embora atualmente haja inovações fantásticas, a maioria tem menor impacto sobre a produtividade do que tiveram aquelas do passado. Em suas polêmicas, Gordon costuma mostrar duas imagens e faz duas perguntas: Qual dessas invenções causou mais impacto sobre a produtividade? Se tivesse de desistir de uma delas, qual você abandonaria?

As duas imagens mostradas por Gordon são de um iPhone e uma descarga de vaso sanitário. O iPhone é um avanço do velho telefone analógico, que também servia para falar e mandar mensagem. Embora notável, o iPhone teve impacto muito menor que a descarga do vaso sanitário. Há poucas décadas, no interior do país, as residências não tinham descarga sanitária. Era uma casinha de madeira sobre um buraco (a privada). Tente imaginar uma grande cidade sem a descarga sanitária. Inviável.

A humanidade está diante de inovações úteis e promissoras, a exemplo das vinculadas à área da genética e da saúde. Porém, muitas inovações badaladas têm pequeno impacto no aumento da produtividade e do bem-estar social. O economista Edmund Phelps, prêmio Nobel de 2006, estudou a estagnação dos países europeus e concluiu que uma das razões é a redução no ritmo das inovações de alto impacto.

Phelps afirma que até mesmo nos Estados Unidos a velocidade das inovações está em queda e esse é um dos problemas em um mundo no qual a população caminha para os 9 bilhões de habitantes. A inovação mais barulhenta nas últimas semanas, que mereceu reportagem especial na revista Veja de 20 de julho, é a nova versão do videogame para celular Pókemon Go.

Fanáticos e adultos eufóricos pelos bichinhos referem-se ao jogo como um fenômeno mundial e falam como se fosse a inovação mais importante do momento. Pode ser boa diversão. Impacto sobre a produtividade e o bem-estar da humanidade: zero.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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