• Carregando...
 | Antônio More/Gazeta do Povo
| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

É indiscutível a natureza vagarosa da recuperação da economia brasileira, em descompasso com o clima de negócios, vigoroso e prolongado, predominante em escala global. No lapso 2000-2009 o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do país cresceu 2,1% ao ano, contra 2,4% da média global, 1,1% dos Estados avançados e 4,4% dos emergentes; entre 2010 e 2017 o incremento foi de apenas 0,4% ao ano, contra 2,5% no mundo, 1,4% nos ricos e 3,8% nos em desenvolvimento. Especificamente em 2017, o aumento dessa grandeza macroeconômica foi de 0,2% no Brasil, 2,4% no mundo, 1,9% nas economias centrais e 3,3% nos emergentes.

A apatia recente repousa em uma árvore de múltiplas raízes, cujo tronco hospeda a exacerbação da desconfiança dos agentes, sobretudo diante das incertezas eleitorais, reforçadas tanto pela sinalização obscura das mais importantes candidaturas à Presidência da República quanto aos compromissos com as reformas institucionais, indispensáveis ao fortalecimento da estabilidade macroeconômica e à restauração do potencial de expansão de longo prazo.

A apatia recente repousa em uma árvore de múltiplas raízes

Mesmo reconhecendo a relevância dos embaraços ocasionados pelas barreiras políticas, parece adequada a argumentação de que a reativação das transações em ritmo consideravelmente aquém daquele desejado pela sociedade, e necessário para a definitiva superação da recessão, pode ser imputada à aniquilação do investimento, que chegou a 15,6% do PIB em 2017, a menor proporção da história.

Começando pelo comportamento das inversões governamentais, o valor deflacionado das obras federais atingiu, em 2017, menos da metade das cifras desembolsadas para obras em 2014, representando queda de mais de R$ 80 bilhões, o que equivale a quase o dobro do montante liberado para saques das contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em 2017, usado prioritariamente para a quitação de dívidas e aquisição de bens essenciais pelas famílias.

Tal situação, que se reproduziu em praticamente todos os estados, muitos deles em situação falimentar, é resultado, fundamentalmente, da descoberta e, por consequência, paralisação (se é que realmente houve paralisação) dos assaltos aos orçamentos públicos e ao caixa das companhias estatais, patrocinados por uma aliança estratégica celebrada entre Executivo, parte do Legislativo e algumas poucas grandes empreiteiras, tratadas como “amigas do rei”. Isso veio a colapsar a construção civil, segmento com maior grau de absorção de mão de obra não qualificada, já suficientemente abalado pelo superdimensionamento da demanda por imóveis, verificado nos tempos de bonança.

Leia também: A crise política e seus impactos sobre a economia (artigo de Marcelo Curado, publicado em 24 do junho de 2017)

Nossas convicções: As empresas, sua finalidade e o bem comum

A vertente compensatória à contração do investimento direto do governo, representada pela ampliação e modernização da capacidade produtiva das plantas privadas, esbarra nas ainda elevadas margens de ociosidade acumuladas durante o período depressivo, nas dúvidas acerca do curso da política econômica em 2019 e na insuficiência de absorção doméstica, imputada à degradação fiscal do Estado, à lenta e precária reação do mercado de ocupações, amparada na informalidade, e aos temores de perda de emprego por parte da população trabalhadora.

Apenas a título de exemplo, em paralelo ao acréscimo de 0,9% na quantidade produzida, totalizando 12 mil unidades, as vendas de máquinas agrícolas e rodoviárias recuaram 9,6% no primeiro trimestre de 2018, em comparação com janeiro-março de 2017, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Os resultados ruins foram determinados pela diminuição de 19,1% da comercialização no mercado doméstico, que regrediu de 9,3 mil para 7,5 mil unidades, pois as exportações subiram 31,7% no intervalo em tela, perfazendo 2,9 mil unidades, e contribuíram com 27,9% das vendas totais, contra 17,1%, nos primeiros três meses de 2017.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é professor da FAE Business School e ex-diretor-presidente do Ipardes.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]