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Desemprego ascendente, inflação nas alturas, câmbio descontrolado, credibilidade internacional ruindo e a família brasileira endividada até o pescoço. Eis o retrato atual do governo da presidente Dilma Rousseff. A situação é tão crítica que a ilustre inquilina do Planalto nem sequer teve coragem de fazer o tradicional pronunciamento público de 7 de Setembro; soltou um intempestivo vídeo nas redes sociais, demonstrando claro temor em enfrentar os olhos do povo com hora marcada. E só teme o povo quem não lhe representa mais. Sim, infelizmente a capacidade de governar se foi e os problemas não param de crescer. No turbilhão dos acontecimentos, a pergunta do momento é uma só: o que fazer?

Está categoricamente demonstrado que não há unidade nem convergência na oposição

Ora, a pergunta é fácil de escrever, mas difícil de responder. Sabidamente, a abstração da letra sobre o papel nem sempre reflete a concretude pulsante da vida vivida. Todavia, por mais difícil que seja a situação vivenciada, o bom uso da razão pensante é o melhor caminho para o encontro da justa solução. Nesse contexto, entre o impeachment, a renúncia, a cassação ou a continuidade presidencial, a realidade política brasileira já tem algumas definições; as cartas estão na mesa.

Primeiro, está categoricamente demonstrado que não há unidade nem convergência na oposição. E isso é grave, pois o momento está a exigir uma postura segura, firme e unida em prol do país. Até um frade de pedra vê que o desgoverno reinante não pode continuar. Acontece que a vaidade do PSDB só é menor que o ego de suas lideranças; é um partido sem coesão e com personalismos agudos, o que, em termos práticos, impede uma ação oposicionista decidida e coordenada. A indecisão e tibieza dos tucanos é um belo resumo do quadro de indefinições da cena política nacional.

Paralelamente, ainda não se sabe o grau de abrangência e profundidade da Lava Jato sobre o PMDB. A circunstância não é de somenos, pois de nada adianta impedir um presidente da República se o vice também pode sair chamuscado. Se fosse o caso, a saída seria a renúncia da chapa eleita ou a anulação do pleito com a consequente convocação de novas eleições. O problema é que via judicial é mais morosa que o caminho político, sendo o tempo, aqui, um elemento absolutamente essencial. Isso porque o Brasil precisa de decisões urgentes e inadiáveis; a demora é apenas uma agravante daquilo que já gravíssimo está.

Na outra ponta, o PT sangra, levando consigo todo o capital político de Lula. O partido mingua a cada semana, tendo crescente repulsa popular. O famigerado boneco “Pixuleco” virou o símbolo da derrocada petista. A crise atual, além de esfarelar o legado social do Plano Real e das políticas públicas subsequentes, condenará o lulismo à repulsa e ao esquecimento. As velhas táticas do partido não surtem mais o efeito desejado; o enérgico discurso moralista de antigamente não cabe mais em um governo enredado em palpitantes esquemas de corrupção sistêmica. Adicionalmente, a divisão da sociedade entre bons e maus, ricos e pobres ou exploradores e explorados é cada vez menos eficaz em um mundo permeado pela tecnologia da informação que desnuda, instantaneamente, a mentira política, colocando-a em cores vivas nas mãos de cada cidadão brasileiro.

Dessa forma, o impeachment, paradoxalmente, poderia ser uma válvula de salvação: em um quadro econômico difícil e de soluções complicadas, o PT voltaria a fazer barulho no outro lado do balcão, retomando bandeiras históricas e, ainda, posando de vítima de um suposto movimento conservador. O desgaste atual seria substituído por uma estratégia de retomada de fôlego para as próximas eleições. O problema é a presidente Dilma aceitar o receituário, tendo de passar pela humilhação pública do impedimento constitucional. A renúncia, assim, seria menos traumática e politicamente mais digna. Enfim, independentemente do porvir, teremos, até 2018, um período de transição. O caminho será árduo. E poderá ser ainda mais difícil se a ciranda do gasto público continuar a rodar em um ambiente de desentendimentos, indecisões e falta de espírito republicano.

Enquanto isso, o governo balança, mas não cai. Ou já caiu e apenas os cacos estão em pé?

Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr. é advogado.
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