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O debate sobre a teoria da evolução, de Charles Darwin, se torna mais intenso nas culturas em que visões conservadoras do Cristianismo são mais populares. Nos Estados Unidos, fonte da maior parte da literatura antievolucionista, cerca de metade da população pensa que a evolução é falsa e quer removê-la do currículo das escolas públicas. A controvérsia é tão intensa que muitos pais educam os filhos em casa, em vez de mandá-los a escolas públicas onde se ensina a evolução. Em outros países, onde há aulas de religião na rede pública ou onde muitas crianças vão a escolas confessionais, o debate é sobre o que vai ser ensinado nas aulas de Biologia: criação ou evolução, Deus ou Darwin.

A oposição à evolução já foi exclusividade dos Estados Unidos, e lá ela continua mais forte que em quase todos os outros países – uma pesquisa da revista Nature descobriu que só na Turquia existe mais oposição à evolução que nos EUA. Mas ela também está crescendo na Austrália, na Inglaterra e na América Latina – e muito da antipatia vista nesses locais tem sua origem nos Estados Unidos. É trágico que a oposição à evolução tenha se fortalecido nas últimas décadas, justo quando a evidência a seu favor se tornou tão forte que praticamente toda a oposição a ela dentro da comunidade científica tenha desaparecido.

Duas vozes principais contestam a evolução. A primeira é o "criacionismo de Terra jovem", que tenta convencer as pessoas de que a Terra foi criada cerca de 10 mil anos atrás, como descrito no primeiro capítulo da Bíblia. Apesar da evidência avassaladora de que nosso planeta tem bilhões de anos, esses criacionistas se recusam a aceitar as conclusões da ciência, já que elas contradizem sua incomum interpretação totalmente literal da Bíblia. A outra voz, mais sofisticada, é o "Design inteligente", que tenta refutar a evolução ao encontrar coisas complexas na natureza que a evolução não consegue explicar muito bem. Por anos, ambos os grupos vêm dizendo que a evolução está morrendo, apesar de ela estar cada vez mais saudável.

A batalha sobre a teoria de Darwin é intensa porque muitos acreditam que a evolução é incompatível com a crença em um Deus criador. À medida que nossas culturas se tornam mais seculares, a visão científica segundo a qual nós evoluímos substitui a visão tradicional segundo a qual Deus nos criou, como descrito na Bíblia. Muitos cristãos temem que a religião que foi integrante central de suas culturas esteja sendo empurrada para as margens. A substituição da criação bíblica tradicional pela evolução biológica seria parte desse processo. Lutar contra Darwin, então, é visto como lutar por Deus. E quem não quer lutar por Deus?

A afirmação de que Darwin substituiu Deus, no entanto, é simplesmente falsa. Muitos cientistas são cristãos e acreditam que a evolução é apenas a maneira que Deus usa para criar. Assim como Newton não virou ateu quando percebeu que era a gravidade que mantinha os planetas em suas órbitas, não precisamos nos tornar ateus se aceitamos que Deus cria por meio de um processo evolutivo.

A ciência, para os milhões de cristãos que a abraçam, é o estudo de como Deus faz as coisas, e não um longo argumento a favor da inexistência de Deus.

Karl Giberson, pesquisador residente em Ciência e Religião do Stonehill College (Estados Unidos), é autor de Saving Darwin.

Tradução: Marcio Antonio Campos

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