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 | Henry Milleo/Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

A pequena Alagoas contribuiu, em meados do século 19, para os primeiros passos da República do Brasil dando-lhe seus dois primeiros presidentes: os marechais Deodoro e Floriano – este, vice daquele. Militares de carreira. Democratas e probos. Mais recentemente, exportou para Brasília duas excrecências políticas que ainda hoje lá perduram. Collor de Mello, como deputado federal (1982) e, depois, na Presidência da República (1989). Por causa das estripulias como o confisco de nossas poupanças e outros delitos através do sicário PC Farias, terminou cassado. Para acentuar o paradoxo, o eleitorado alagoano o premiou com dois novos mandatos de senador (em 2006 e 2014).

Em cronograma paralelo, Alagoas elegeu Renan Calheiros deputado federal (1982) pelo PMDB e, depois, senador (1994). De fato, Calheiros foi o mentor do sucesso eleitoral de Collor em 1989. A imprensa fala em relação estreita de “amor e ódio” entre ambos. Renan responde a 12 apurações criminais no STF. Permanece impune. O desfecho da Lava Jato pode revelá-lo como o parlamentar que mais recebeu dinheiro ilícito. Concluído agora seu quarto mandato como presidente do Senado e do Congresso Nacional (é de pasmar !), acomodou-se, com o apoio de seus pares e ímpares de Senado, na liderança do PMDB.

Há de prevalecer a “República de Curitiba” : confiável e competente

No que tange ao título deste artigo e ao Paraná, não se pode arrolar discrepâncias tão gritantes tais como as alagoanas. Recentemente o Paraná encantou e continua encantando o Brasil todo com o desempenho do juiz federal Sergio Moro. Culto nas letras jurídicas, honesto a toda prova e, mais que isso, destemido, tem feito renascer no sofrido povo desta terra a esperança de que prevalecerá a plena justiça e suas penas para este numeroso elenco de meliantes e salafrários dirigentes de estatais, tesoureiros de partidos políticos, ordenadores de despesas, doleiros e lobistas intermediadores e parlamentares dos dois quilates – deputados federais e senadores – que traíram a confiança do eleitorado.

Um insuspeito sorteio no STF designa outro ilustre advogado paranaense, Edson Fachin, como novo relator da Lava Jato para ocupar a vaga do insigne Teori Zavascki, ceifado precocemente por uma fatalidade aérea. Perdeu a UFPR, anos atrás, a dourada oportunidade de eleger Fachin seu reitor. Ganham o Paraná e o país todo a oportunidade de se conduzir a cruzada anticorrupção a seu destino certo.

Coteje-se questões menores para explicar o paradoxo paranaense. Dois fatos locais, de menor dimensão. A lentidão com a qual a Justiça paranaense não leva à rigorosa pena que se impõe ao alucinado ex-deputado estadual Carli Filho, quem, em seu racha automobilístico madrugada adentro, a uma absurda velocidade de 170 km/h e sob o efeito de estimulante, atingiu e matou dois inocentes jovens. A inércia judiciária perdura por mais de sete anos. Ambas as bancas advocatícias – a de defesa e de acusação – são notórias no cenário jurídico paranaense. Indaga-se: que roda dentada da engrenagem total persiste travada? O fato acessório para finalizar o paradoxo paranaense é mais antigo: Nelson Justus e seus parceiros de desmandos financeiros na Assembleia Legislativa. Outra pendência escandalosa. O momento e contexto corrente é propício para a Gazeta do Povo e outros instrumentos de mídia retomarem a cruzada pela aplicação das penas que caibam aos deputados estaduais também envolvidos.

Paradoxos expostos, sigamos acreditando que vale a continuidade de ensinamentos e esclarecimentos que prestamos a nossos filhos e netos, herdeiros do exemplar estado do Paraná. Honestidade, bom caráter, respeito às leis e pleno exercício de cidadania. Com participação social em todos os instrumentos de divulgação e denúncia. Pacientes, esperemos que Moro, Fachin, Dallagnol e parceiros de Ministério Público, mais a aliada e competente Polícia Federal, cumpram plenamente suas elevadas funções. Criminosos atrás das grades e confisco de todo o roubo do erário e outras fontes. Nenhum cidadão paranaense e brasileiro com um mínimo de politização vai se contentar com dezenas de delatores premiados no conforto das mansões certamente adquiridas com dinheiro ilícito ou se esquecendo, após a ducha ou mergulho na piscina, de repor a tornozeleira de pelica argentina. Há de prevalecer a “República de Curitiba” : confiável e competente.

José Domingos Fontana é professor emérito da UFPR e visitante na UTFPR-Ecoville.
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