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 | Antonio Costa/Arquivo Gazeta do Povo
| Foto: Antonio Costa/Arquivo Gazeta do Povo

Na última semana de maio tivemos duas importantes notícias sobre a economia brasileira. A primeira, a respeito do crescimento do PIB, é como uma flor recém-colhida cuja finalidade é ornamentar um quarto de hospital onde repousa um corpo moribundo. A segunda, sobre a competitividade, é justamente o corpo moribundo no hospital.

Como recentemente apurou o IBGE, a economia brasileira cresceu 1% no primeiro trimestre de 2017, revertendo o trágico decrescimento de oito trimestres consecutivos. Esse tímido crescimento pode se desdobrar em várias possibilidades que só o tempo será capaz de revelar com precisão. Pode ser, sim, que a economia tenha saído do momento mais amargo da recessão e continuará a crescer no futuro. Por outro lado, pode ser que a recessão perdure, e que esse recente crescimento tenha sido apenas um reflexo da acomodação entre preços externos e a taxa de câmbio. E há também uma situação intermediária, em que a economia, sem ter uma trajetória clara e definida, ficaria mais algum tempo oscilando em torno dos acontecimentos no cenário político.

Estamos há vários anos sem um governo, embora grupos políticos distintos ocupem esse cargo

A segunda notícia é algo que está também intimamente relacionado com o crescimento econômico, mas em um horizonte temporal mais longo, medido em décadas e não em trimestres, semestres ou anos. A mídia noticiou a posição que o Brasil ocupa no ranking de competitividade. Entre 63 países analisados, o Brasil ocupa a 61.ª posição, à frente da distante Mongólia e da agonizante Venezuela. E, se o ranking englobasse 100 ou mais países, notadamente a situação do Brasil seria muito pior.

Por desconhecer completamente a condição econômica da Mongólia, a comparação imediata é com nosso vizinho petroleiro. Estamos vergonhosamente à frente de um país que não consegue suprir as necessidades básicas da sua população, que, para fugir da miséria existencial, busca maciçamente asilo em outros países, incluindo o Brasil. A Venezuela vive a conjugação de dois males: a chamada doença holandesa e a catástrofe bolivariana.

O índice de competitividade engloba quatro dimensões: desempenho da economia, eficiência do governo, eficiência empresarial e infraestrutura. Em todas essas dimensões o Brasil está em situação delicada. A pior é a eficiência do governo. De fato, estamos há vários anos sem um governo, embora grupos políticos distintos ocupem esse cargo. A melhor, se assim for possível falar, é a eficiência empresarial, que, a despeito de tudo, consegue encontrar alguma forma para avançar. Mas vale ressaltar que tal eficiência vale apenas para um grupo seleto de empresas comprometidas com a ética, com a eficiência e com a inovação.

Opinião da Gazeta:Competitividade em queda livre (editorial de 6 de junho de 2017)

Opinião da Gazeta: O Brasil cada vez menos competitivo (editorial de 19 de dezembro de 2016)

Melhorar a competitividade envolve um esforço que poucas nações legitimamente conseguiram. Engloba um esforço para poupar e para realizar grandes investimentos em educação e ciência e tecnologia. E o Brasil, um país eivado de corrupção, onde o dinheiro da educação e da ciência e tecnologia é desviado para privilégios e gastanças particulares, nunca conseguirá alcançar um ritmo de crescimento capaz de competir com países que realizaram um pacto de sangue com esses compromissos fundamentais.

Independentemente da taxa de crescimento que o tempo nos revelar, será difícil retomar condições econômicas que melhorem a situação da competitividade brasileira, principalmente por conta dos vários estrangulamentos com que nos defrontamos. A questão fundamental é que, por causa de todo o ambiente contaminado em que estamos, é difícil imaginar a situação em que o hospital esteja para trás.

Rodolfo Coelho Prates, doutor em Economia, é professor visitante do Middlebury College (EUA) e consultor econômico.
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