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| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A estabilidade institucional do país está mais uma vez ameaçada. Não por grupelhos radicais que, distanciados do poder, esperneiam e estrebucham em praças públicas. Mas por aqueles que deveriam, como exemplo, zelar pelas instituições e que, ao contrário disso, tramam para se livrar do julgamento pelas traquinagens entre Estado o setor privado – a maioria deles, no famoso e prejudicial caixa dois.

As pessoas que foram para as ruas exigir o fim da bandalheira que afundou o país em 13 anos de petismo e os que, mesmo sendo defensores do governo anterior, conseguem distinguir mais um estrago que se preparou e se concretiza contra o país devem manifestar repulsa não só à anistia retroativa ao caixa 2, passando o Congresso a limpo, mas também à deformação que houve na madrugada do último dia 30, na votação do pacote de medidas anticorrupção proposto pelo Ministério Público Federal. A consciência nacional, mais uma vez desrespeitada, deve ser radicalmente contra toda e qualquer trama para barrar ou criar obstáculos ao trabalho da Operação Lava Jato.

Michel Temer tem de vetar a deturpação praticada pela Câmara nas Dez Medidas Contra a Corrupção

Deputados federais, especialmente aqueles que têm contas a prestar à Justiça, aprovaram mudanças que só beneficiam a eles e a suas quadrilhas, como a inclusão de punição por crime de abuso de autoridade a magistrados, procuradores e promotores, além da retirada da tipificação do crime de enriquecimento ilícito de servidores públicos. Apenas três partidos não endossaram as emendas à la Frankenstein; o resto (com menos ou mais deputados) lambuzou-se, inclusive o PT. Em resumo, deputados amigos votaram uma lei para livrar da cadeia aqueles deputados que roubaram e que são corruptos. Logo, se as coisas continuarem assim, Lula irá prender o juiz Sergio Moro.

As revelações da Lava Jato, doam a quem doer, podem desmascarar desvios de conduta e ações antirrepublicanas tanto de congressistas como de autoridades instaladas nos governos em qualquer instância. Podem ser (e serão) um avanço em nosso viciado modelo político, em meio a uma tentativa de recuperação de um país abatido não só na economia, mas também na moral. Por que deveria haver anistia a criminosos?

Espremido pela ameaça das manifestações das ruas, o presidente Michel Temer, também acossado por crises internas de seu governo, colocou-se, pelo menos em discurso, contra qualquer anistia ao caixa dois. Os motivos de sua postura são de somenos. Deve não só mantê-la, como vetar a deturpação praticada pela Câmara. Assim deveriam proceder os congressistas, se estivessem sintonizados com os anseios do país, como aparentemente estiveram no processo do impeachment. Há tempo, pois agora o projeto está com o Senado, que tem uma responsabilidade patriótica em mãos. A mesma que os deputados, 12 deles paranaenses, enlamearam.

Alguns políticos, especialmente Temer, não podem continuar titubeantes. Sua legitimidade, tanto no Executivo como no Legislativo, pode extinguir-se. É tempo de vetar afrontas como a que os deputados federais querem perpetuar. Isso robusteceria não só nosso sistema político, como também a estabilidade institucional. Um país mais justo e democrático começa no fortalecimento das instituições.

Cláudio Slaviero é empresário e ex-presidente da Associação Comercial do Paraná.
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