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Felipe Lima

O clichê é surrado, mas verdadeiro: empreendedor, no Brasil, é de fato um herói.

Da porteira para dentro, empreendedores têm de lidar com uma enorme burocracia. Demora-se em média 83 dias para abrir uma empresa no Brasil enquanto nossos quase vizinhos chilenos demoram apenas três. No entanto, se abrir o próprio negócio já é uma tortura, ao tocá-lo no dia a dia percebe-se que aquele foi apenas o primeiro obstáculo. Empreendedores brasileiros levam em média 2,6 mil horas por ano só preenchendo a papelada. Os bolivianos, em segundo lugar, levam menos da metade do tempo: 1.025 horas. Da porteira para fora os desafios não são menores. Sai mais de três vezes mais caro transportar um contêiner de São Paulo até Brasília (US$ 240) do que fazê-lo chegar à China (US$ 75)!

Esses entraves à produção de riqueza resumem bem a nossa situação: não somos competitivos. Mais do que isso: perdemos terreno a cada ano. O Fórum Econômico Mundial divulga anualmente o Índice de Competitividade Global, relatório que avalia 138 países em fatores como instituições, infraestrutura, ambiente macroeconômico etc. Nos últimos quatro anos o Brasil despencou: foi da 48.ª posição em 2012 à 57.ª em 2014, até atingir a atual e vergonhosa 81.ª posição. Mas de que importa essa tal competitividade?

As economias mais competitivas foram as menos afetadas pela recessão em 2008

Primeiro, países mais produtivos são aqueles cujos indivíduos produzem mais riqueza com o que têm à disposição, possibilitando um maior padrão de vida para os cidadãos; segundo, países mais produtivos oferecem maiores retornos sobre os investimentos, o que é importante para as empresas que buscam novos mercados decidirem onde vão investir, resultando em crescimento econômico; e, por último, competitividade implica em estabilidade econômica. Dados do relatório confirmam que as economias mais competitivas foram as menos afetadas pela recessão em 2008.

No topo da tabela dos mais competitivos estão Suíça, Cingapura, Estados Unidos e Alemanha. Nas últimas posições, Iêmen, Mauritânia, Chade e Burundi representam a ausência quase total de livre mercado. Basta uma rápida olhada no PIB de cada país para vermos que há uma forte relação entre crescimento econômico e competitividade. Não há coincidência, portanto. Para que um país seja mais rico é necessário que seja mais competitivo.

O relatório deste ano trouxe uma conclusão nova: estímulos monetários não foram – porque não são! – suficientes para incentivar o crescimento econômico. Para estimular o crescimento, conclui o relatório, é necessária uma reforma no ambiente de negócios.

Mais uma vez, entendemos por que o Brasil regrediu nos últimos anos. Na tentativa de buscar o crescimento econômico usando sua Nova Matriz Econômica, o governo de Dilma Rousseff incentivou a desvalorização da moeda e forçou as taxas de juros para baixo mesmo com a inflação em trajetória de alta. Como corolário, o governo ignorou as reformas microeconômicas necessárias.

Com o advento de um novo governo, que tem prometido reformas profundas, espera-se que seja dada prioridade àquelas que garantam um ambiente mais favorável aos negócios. Enquanto um cidadão levar 83 dias para colocar de pé uma empresa e for mais barato enviar um contêiner para Pequim que para Brasília, qualquer estímulo macroeconômico terá relevância menor. Mais competitividade depende de garantir ao indivíduo – aquele que não almeja ser nenhum herói à força, mas quer apenas exercer sua vocação empreendedora – as condições necessárias para que crie riqueza com liberdade e responsabilidade. A escolha é simples: ou fazemos a lição de casa, reduzindo burocracia e impostos, ou nos conformamos com mais uma queda no ranking de competitividade em 2017.

Leonardo de Siqueira Lima, mestre em Economia pela Barcelona Graduate School of Economics, é consultor da GO Associados e fundador do site Terraço Econômico. Marcel van Hattem, mestre em Ciência Política pela Universidade de Leiden, é deputado estadual no Rio Grande do Sul.
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