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 | Antônio More/Gazeta do Povo
| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

O Brasil vive um momento histórico, marcado pelo impacto de narrativas vindas dos mais diversos olhares e ângulos, sobre aspectos sociais que transcorrem pela crise política até a segurança pública. A tendência denominada “cultura participativa” evidencia uma nova era que não tem prazo de validade, marcada pelo acesso da população aos canais midiáticos, conexões entre culturas e ideologias e, mais do que isso, a ativa participação dos espectadores na construção das mensagens transmitidas pelos veículos de comunicação.

Se no passado o consumo de informação era passivo, hoje cresce, cada vez mais, a necessidade de contribuir com a disseminação da notícia. Desde aqueles considerados “digital influencers” até a mídia televisiva, a emergência da cultura participativa é presente, propondo um caminho sem volta da inserção de conteúdos amadores nas instituições jornalísticas. Esta é uma realidade inegável, e que tem a ver com a popularização das tecnologias – hoje em dia, a maioria das pessoas tem acesso a diversos dispositivos, como celulares e câmeras; mais do que isso, sabe utilizá-los para produzir algum tipo de material. Contudo, o questionamento é sobre quais as consequências dessa grande quantidade de conteúdos amadores dentro do jornalismo.

Os espectadores saíram da passividade, mas isso não significa que tudo que for produzido seja de qualidade

Se a imparcialidade dos veículos de comunicação está sempre em debate, a produção da notícia de conteúdo amador carrega a carga cultural e ideológica de quem a produziu sem nenhuma timidez. Temos visto uma grande quantidade de material sendo produzido a respeito da crise econômica e política do país. Cada um se volta para a defesa do ponto de vista do autor. Certamente os espectadores saíram da passividade, mas isso não significa que tudo que for produzido seja de qualidade. E aí transparece a importância do jornalista, que é saber fazer um aproveitamento pertinente e produtivo desse material que não para de chegar. O que vemos é que muitas vezes os veículos dão visibilidade para conteúdo sem relevância jornalística, como imagens impactantes de flagrantes que só causam sensações, mas não informam muita coisa. Em outros momentos, aproveitam estes materiais brutos para aplicar narrativas bem amarradas conforme os interesses das empresas, distorcendo ou manipulando aquilo que supostamente as imagens mostram.

As particularidades oferecidas pela produção amadora é o que se tem de mais valioso atualmente, tanto para quem vê como para quem produz uma matéria. Os conteúdos amadores são interessantes para todos: para os espectadores, pois sentem que estão assistindo ao fato em sua forma mais “pura” de se fazer comunicação, no sentido de menos atrelado aos supostos interesses das emissoras; para as empresas, porque facilitam seu trabalho e ajudam a fazer circular a impressão de que seu conteúdo jornalístico não é unilateral.

Leia também:A fascinação da reportagem (artigo de Carlos Alberto Di Franco, publicado em 4 de janeiro de 2016)

Entre os temais de maior interesse da população estão assuntos ligados à violência, à insegurança e a denúncias de diversos tipos, como os problemas no funcionamento das instituições públicas e privadas. Todavia, os registros mais interessantes se dão em flagrantes, com imagens inesperadas, cenas impactantes e até mesmo questões que violam a privacidade. Não deixa de ser uma forma de protesto do espectador. Muitos assuntos que antes não eram relevantes ganham uma carga muito maior, como os maus-tratos aos animais ou agressões ao meio ambiente. No entanto, é preciso separar a realidade do sensacionalismo. Assim, do mesmo modo como as pessoas buscam e transmitem informações, precisa existir maturidade na apuração e interpretação.

Maura Martins, jornalista, é professora do UniBrasil Centro Universitário e autora de “Novos efeitos de real no jornalismo televisivo: Reconfigurações estéticas e narrativas a partir da ubiquidade das máquinas de visibilidade”.
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