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Felipe Lima

Há uma revolução em curso no planeta e era de se esperar que aqueles que agitam as bandeiras da modernidade estivessem atentos a isso. E nada mais revolucionário na história que a mudança no padrão de produção de energia. A primeira Revolução Industrial aconteceu com a energia a vapor, a partir do uso do carvão. A segunda revolução, com a eletricidade e o petróleo. Atualmente predominam a eletricidade e os motores à base de combustão, mas há variadas e promissoras formas de geração de energia – em especial, a solar e a eólica.

Alguns países, como a Alemanha, são vanguarda no processo de substituição da matriz energética. Uma das principais transformações está na indústria automobilística, com os carros elétricos e a ampliação da geração de energia por fontes renováveis. O Brasil caminha na direção oposta. Não apenas pelas tentativas de aumentar o uso de combustíveis fósseis, como o carvão mineral e o petróleo, mas também pelo modelo econômico escolhido na exploração destas fontes. A recente discussão no Congresso Nacional sobre a partilha do pré-sal mostra como é difícil aos gestores e aos políticos deixarem de lado os espíritos do passado.

Investir fabulosos recursos no pré-sal é como imaginar alguém que em 1930 investisse numa fábrica de carroças

As novas formas de produção de energia não são coisa de cientista maluco. Há hoje uma indústria consolidada e as mudanças poderiam ocorrer de forma bem mais intensa. Isso não acontece porque as forças conservadoras do atual modelo energético (setores baseados em combustíveis fósseis, indústria automobilística, dentre outras, e suas profundas ligações com o poder político) batalham para que esse modelo sobreviva. Mas há outras causas a travar o processo, incluindo o conservadorismo de certos agentes que poderiam ser a vanguarda de algo novo no mundo.

Nesse sentido, é difícil entender a velha bandeira “O petróleo é nosso”. É um discurso de quase 100 anos atrás, logo, um espírito do passado vestido com roupagens modernas. Hoje, além da viabilidade de novas fontes de energia, sabe-se o quanto a queima do petróleo e do carvão é prejudicial à saúde e ao planeta, ainda que tenham grande potencial de gerar riqueza. O seu uso para produção de energia e para transporte é uma das principais causas da poluição urbana e, provavelmente, do aquecimento global.

Assim, levantar a bandeira “O petróleo é nosso” é como investir em algo que é combatido. É remar contra a maré. Melhor seria agitar outro lema, como “A energia renovável é nossa”; aí, sim, o Brasil induziria um processo realmente revolucionário em vez de invocar espíritos do passado.

Investir fabulosos recursos no pré-sal é como imaginar alguém que em 1930 investisse numa moderníssima fábrica de carroças. Talvez por alguns anos tivesse lucro, mas certamente pagaria um alto preço, mais cedo ou mais tarde. Então, convém deixar tais riscos para empreendedores que vivem em função de riscos. O Estado, ao contrário, pode ser um facilitador para processos de inovação; por isso, é fundamental ter coragem e apostar no futuro e não no passado.

Carlos Simioni, sociólogo, é professor dos cursos de Ciência Política e Relações Internacionais do Centro Universitário Internacional Uninter.
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