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A larga expansão da plataforma mobile tem auxiliado no desenvolvimento de ambientes interoperáveis, em que cidadãos se inserem na sociedade da informação por intermédio das tecnologias da informação e comunicação, estabelecendo novos processos comunicativos e usufruindo de serviços públicos digitais.

Trata-se de uma crescente integração entre objetos interconectados por meio da internet, que mediam ações e informações entre outros objetos e cidadãos, sendo independentes de intervenção humana e configurados para oferecer facilidades para o cotidiano da sociedade, permitindo a existência de uma rede amplamente conectada e gerando uma significativa massa de dados (Big Data) proveniente de diferentes dispositivos eletrônicos.

Este cenário, de materialização de ambientes permeados de informação cujos variados objetos podem conectar-se sem fio à internet e entre si, é compreendido como Internet das Coisas. O termo “Internet das Coisas” (IdC ou IoT, acrônimo de Internet of Things) é usado como sinônimo de ambientes conectados, computação ubíqua, comunicação máquina a máquina (Machine to Machine Communication, M2M), web das coisas, internet do futuro e objetos inteligentes (Smart Things). A partir desses termos, pode-se inferir como a IdC, em uma era digital de franca expansão, com a massiva utilização de smartphones, tablets e notebooks, passa a ocupar e incorporar os hábitos dos cidadãos.

Não obstante, a IdC é entendida como um fenômeno, ubíquo e em constante evolução, cujas inovações potencializam soluções capazes de promover o desenvolvimento socioeconômico e a melhoria da qualidade de vida, baseadas em aplicações interativas que, além de conter informações estáticas, contêm informações em tempo real referentes aos objetos do meio físico urbano.

Os governos podem ser grandes usuários das aplicações da Internet das Coisas, cujas tecnologias podem reduzir custos

Dentre as tecnologias presentes nestes ambientes conectados, destacam-se a Radio Frequency Identification (RFID), a Near Field Communication (NFC), o QR Code, as redes wireless e os sensores sem fio. Essas tecnologias são normalmente integradas em aparelhos eletrônicos, unindo o mundo real ao digital e servindo como importantes instrumentos para solucionar ou minimizar problemas urbanos, assim como auxiliar na realização de tarefas cotidianas.

A IdC descreve um cenário de funções incorporadas em muitos objetos dos espaços urbanos; microchips implantados em seres vivos, capazes de trocar informações entre si, com as pessoas ou com o ambiente; objetos com sensores embutidos para coletar diferentes tipos de dados e ajudar a entender o comportamento das cidades, a exemplo das cidades inteligentes (Smart Cities), sendo estrategicamente planejadas sob os pilares da conectividade e automação.

Iniciativas para a construção e o desenvolvimento de cidades inteligentes preconizam a adoção de tecnologias na infraestrutura urbana, em que sejam capazes de coletar e transmitir informações em tempo real acerca da dinâmica das cidades, quer seja de seres humanos, animais, objetos ou na investigação de eventos climáticos. Essas informações em tempo real sobre as questões urbanas, a partir da aplicação de métodos próprios de análise, analíticos ou preditivos, podem servir como um robusto instrumento de apoio à tomada de decisão para os setores responsáveis na administração das cidades.

São as cidades inteligentes e as regiões monitoradas por sensores que captam informações dos postes de luz, possibilitando a redução nos custos de energia; geram informações sobre o trânsito representadas em mapas sinóticos, por meio do emprego de geotecnologia; medem a qualidade do ar e o nível de ruído. Os cidadãos serão usuários de diversas aplicações e terão cada vez mais acesso em tempo real aos serviços urbanos, do consumo de água à escolha do posto de saúde.

O planejamento urbano é uma atividade contínua para a tomada de decisão, constituindo a preparação para a gestão futura, uma vez que promove a antecipação de fenômenos futuros, buscando minimizar os problemas urbanos. Isto posto, os governos podem ser grandes usuários das aplicações da IdC, cujas tecnologias podem reduzir custos e melhorar a qualidade da prestação de serviços públicos, identificando áreas de oportunidades para que as cidades possam estabelecer e empregar estratégias que combinam a gestão da água, redes inteligentes, gestão de resíduos e estacionamento inteligente, entre outros; planejar uma cultura de IdC para favorecer o ativismo no sistema político, conciliando lei e realidade, conjugando informação e desenvolvimento; compartilhar experiências, plataformas e melhores práticas de IdC, no sentido de minimizar a fragmentação das soluções tecnológicas, bem como tornar os cidadãos mais inclusivos na construção das cidades inteligentes.

Um exemplo interessante da adoção da IdC na gestão pública é o sistema urbano de mobilidade sustentável em uso no Centro de Operações de Mobilidade, sediado no Instituto Curitiba de Informática (ICI) e integrante do projeto-piloto do Programa Ecoelétrico da Prefeitura Municipal de Curitiba, que permite o monitoramento on-line da frota de carros elétricos, bem como a manutenção dos eletropostos instalados pela cidade. O monitoramento dos indicadores como energia elétrica consumida, número de viagens e distâncias percorridas é viabilizado pela utilização da tecnologia RFID, integrante dos dispositivos do sistema instalados tanto nos veículos quanto nos eletropostos, além da adoção de outras tecnologias inteligentes associando telemetria, Big Data e Business Intelligence.

Até julho deste ano, o projeto já havia alcançado uma poupança total equivalente a 7.556,38 kg de CO2, registrando-se a maior poupança em julho de 2014 (947 kg) e a menor, em setembro do mesmo ano (266,25 kg). Desde o seu lançamento, os veículos que integram a frota do Programa Ecoelétrico já percorreram um total de 60.451 km. Em termos de energia, o total consumido até a data corresponde a 10.732,31 kWh, sendo que no mês de julho de 2015 a frota consumiu um total de 539,13 kWh.

Atualmente, estão sendo realizados testes-piloto para algumas tecnologias de comunicação sem fio (Bluetooth, GSM/GPRS, RFID) em um gateway para redes de sensores sem fio, em que se pretende o reconhecimento de características dos veículos que estacionam nas vagas sensorizadas, além da comunicação com os veículos elétricos. A nova funcionalidade poderá auxiliar na gestão do trânsito das cidades, bem como ser integrada ao sistema urbano de mobilidade.

De fato, os gestores do setor público têm uma excelente oportunidade de agir, a partir da utilização da IdC na implementação e alcance dos objetivos das políticas públicas, incluindo o aumento do crescimento econômico e melhorias na sustentabilidade ambiental, segurança pública, prestação de serviços do governo e produtividade. Não obstante, em termos de política pública, líderes de governo terão de estabelecer diálogos e entendimentos claros sobre os riscos de privacidade que acompanham a IdC. Tão importantes quanto a informação e a inteligência tecnológica são a estratégia, o planejamento e as políticas públicas que irão orientar e regular as aplicações da IdC no desenvolvimento das cidades.

Neste sentido, torna-se necessário que os governos, nas esferas federal, estadual e municipal, avaliem onde e como podem usar a IdC em suas funções administrativas, bem como o papel que a IdC poderia desempenhar na realização mais ampla dos objetivos socioeconômicos, serviços públicos e a vida cotidiana em geral, em um provimento de interação entre sociedade civil e sociedade política.

Adriana Andréa Rodrigues, mestre em Gestão Urbana e pós-graduada em Tecnologia da Informação com ênfase em Administração Pública e em Gestão de Projetos, é pesquisadora-responsável no Instituto Curitiba de Informática (ICI) em linhas de pesquisa para a Mobilidade Urbana Sustentável e Gestão da Informação no Processo Decisório, associadas ao Centro de Operações de Mobilidade do Programa Ecoelétrico.
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