• Carregando...
 | Lula Marques/Agência PT
| Foto: Lula Marques/Agência PT

O Brasil tem 12,5 milhões de trabalhadores desempregados. Fábricas estão fechadas ou com capacidade ociosa. Máquinas estão paradas. Há milhares de obras a serem feitas. A pergunta-chave é: o que impede o encontro dos desempregados com as máquinas paradas? Se isso ocorresse, as duas consequências virtuosas seriam o crescimento do produto e a redução do desemprego. Em 2016, o produto total brasileiro foi 7,4% menor que o produto de 2013, período em que a população cresceu 4,8 milhões de habitantes.

Lula vem dizendo que quer ser presidente de novo para resolver esse problema – que, aliás, foi criado por sua criatura, Dilma Rousseff, a qual vivia culpando fatores externos pela crise. A questão é que a crise mundial pegou a todos; entretanto, o mundo inteiro não está em recessão e os países que nela entraram ou já se livraram da crise ou tiveram recessão bem menor que a brasileira. Mas, sem ficar atrás de culpado, o negócio é descobrir como resolver o abacaxi.

Lula propõe a velha receita keynesiana segundo a qual, em situação de recessão, o governo deve executar um programa de obras públicas para gerar empregos e renda. A ideia é que, com essa iniciativa do governo, os trabalhadores que vierem a ser contratados passem a consumir, o setor privado produza mais para atender o novo consumo e ocorra um efeito elaborado na teoria de Keynes com o nome de “multiplicador da renda”.

Os partidos de esquerda todos gritam contra os juros altos, inclusive o PT, mas não estudam por que os juros são altos

À primeira vista, parece que faz sentido. Mas a coisa não é tão simples. Como as obras públicas seriam pagas? Com aumento de impostos, com emissão de dinheiro ou com mais dívida do governo. Os partidos de esquerda todos gritam contra os juros altos, inclusive o PT, mas não estudam por que os juros são altos. A primeira causa da elevação da taxa de juros está nos gigantescos déficits do governo e na brutal dívida pública, que já bateu nos R$ 4,3 trilhões, ou seja, 70% do produto total do Brasil.

A população e as empresas colocam dinheiro nos bancos. Os banqueiros têm três clientes: as pessoas (consumidores), as empresas e o governo. Quanto maior a fração dos depósitos nos bancos que o governo tomar emprestado, menos sobra para as pessoas e para as empresas. A primeira consequência: os juros sobem. É a lei da oferta e da procura em ação. Keynes fez sua teoria na Grande Depressão dos anos 1930, época em que o desemprego era brutal e os preços estavam em queda (deflação). Ou seja, o cenário era outro.

Keynes sugeriu um programa de obras públicas a ser pago com emissão de dinheiro, sem o risco de uma crise inflacionária. Mas ele teve o cuidado de avisar que isso devia ser temporário e, uma vez retomado o crescimento e contida a deflação, o governo deveria voltar ao equilíbrio orçamentário para não gerar outra crise, de outra natureza. Essa parte seus seguidores tupiniquins esqueceram.

Além dos 12,5 milhões de desempregados, há 5,6 milhões de subempregados (aqueles que estão empregados em jornada inferior a 40 horas/semana) e outros 5 milhões que desistiram de procurar emprego. Esse é o resultado das invenções de política econômica da dupla Dilma-Mantega, que Lula pensa repetir caso seja eleito. Se isso ocorrer, será apenas a repetição de mais uma crise de estagnação com inflação.

O Brasil tem a teimosa mania de achar que por aqui as leis econômicas funcionam de maneira diferente do resto do mundo. O preço é sempre o mesmo: crise e pobreza.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]