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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

A gota que escorre de um copo cheio de água é apenas a aparência que nos é primeiramente observável. Por trás desse fato, esconde-se o lento gotejo de inúmeras gotas, que, em conjunto, tiveram a mesma importância para o transbordar do copo quanto aquela gota que efetivamente transbordou. É precisamente este o significado do ensaio O que se vê e o que não se vê, de Frédéric Bastiat. A aparência nos esconde o que há por trás: “um ato, um hábito, uma instituição, uma lei não geram somente um efeito, mas uma série de efeitos. Dentre esses, só o primeiro é imediato. Manifesta-se simultaneamente com a sua causa. É visível. Os outros só aparecem depois e não são visíveis”.

O que Copa e Jogos Olímpicos no Brasil tiveram em comum é o que faz toda a diferença: financiamento público. O que deveríamos nos perguntar é se o Estado brasileiro deveria continuar a financiar tais eventos. Pois nem todo megaevento é financiado pelo Estado. Sempre há a possibilidade de financiamento privado dessas atividades, como ocorreu em Los Angeles-1984.

Devemos repudiar todo e qualquer evento, pequeno ou grande, financiado com dinheiro público

Grandes projetos dependem de nós

Os eventos não somente fazem a economia girar como fazem a sociedade se movimentar

Leia o artigo de Morgana Guzela, coordenadora do curso de Gestão de Eventos do Centro Tecnológico Positivo

Após os Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976, a anfitriã quase veio à bancarrota. Apenas em 2006 a cidade canadense conseguiu saldar todas a dívidas deixadas pelo evento. Moscou-1980 também deixou a cidade sede com dívidas quase impagáveis. Esses seguidos fracassos trouxeram bastante apreensão quanto à realização dos Jogos Olímpicos de 1984. Após dificuldades em angariar cidades candidatas, Los Angeles acabou sendo a escolhida para sediar o evento, mas a insatisfação dos contribuintes falou mais alto: os cidadãos conseguiram aprovar uma lei que proibia o uso de dinheiro público para financiamento do evento.

Sem a facilidade da mamata pública, os interessados tiveram de buscar patrocínios privados. O resultado não poderia ser outro: orçamento enxuto, sem superfaturamento, e os Jogos mais lucrativos da história. Após os prejuízos em 1976 e em 1980, o evento de Los Angeles auferiu lucro de cerca de US$ 200 milhões.

Em tempos recentes, os Jogos de Atenas, em 2004, podem ser lembrados quando se fala em prejuízo provocado pelo financiamento público de eventos. Entre 2002 e o ano olímpico, o déficit fiscal do governo grego subiu de 3,7% para 7,5% do PIB. A má gestão do gasto governamental naquele acontecimento é hoje apontada como um dos principais fatores que levariam a Grécia ao caos econômico.

Por aqui, a Copa do Mundo de 2014 drenou estimados R$ 26 bilhões do bolso dos contribuintes, valor quase dez vezes maior que o previsto inicialmente. Quanto aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, sabe-se que – até o momento – o custo divulgado é de cerca de R$ 40 bilhões. A incompetência do Estado como gestor é notória. Milton Friedman afirmava que, “se o Estado administrasse o Deserto do Saara, em cinco anos faltaria areia”.

Devemos repudiar todo e qualquer evento, pequeno ou grande, financiado com dinheiro público. O resultado é sempre desleixo com as contas e prejuízos à população que paga impostos. Não há qualquer argumento que justifique a sangria dos cofres públicos em patrocínio de eventos.

Desde que não seja gasto um centavo do bolso dos contribuintes, será sempre muito bem-vinda a realização de eventos custeados pela iniciativa privada, que deve assumir responsabilidade por eventuais prejuízos. O que não podemos é tolerar sangria do erário e prejuízos transferidos à população. Financiamento público nunca mais!

Rodrigo Saraiva Marinho, mestre em Direito Constitucional, é membro do Conselho Administrativo do Instituto Mises Brasil. Guilherme Dourado Aragão Sá Araujo é mestre em Direito Constitucional.
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