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Estamos em um momento crucial da vida brasileira. O governo causou a mais profunda recessão desde que o Brasil passou a ter melhores estatísticas econômicas, em 1901. Desde então, os últimos quatro anos foram os piores. A população cresceu e a produção caiu. A renda por habitante (RPH) diminuiu 11,6% de 2013 até hoje, e já é um quinto da RPH dos Estados Unidos. A nação está mais pobre.

Em artigo anterior, afirmei que o país tem uma parte capitalista (o setor privado) e uma parte socialista (o Estado). O Estado vive do que retira da sociedade. Se gasta mais do que arrecada, tem de fazer dívida. Se persiste, tem de aumentar impostos. Na crise, o setor privado (pessoas e empresas) aperta o cinto, reduz gastos e luta para não ir à falência. Já o governo segue inchando, não reduz gastos, seus servidores não perdem o emprego, e a saída é sempre a mesma: mais dívidas e mais impostos.

A fibra de um povo é tão maior quanto menos ela depende do governo

A Revolução Americana de 1776 foi a revolta do povo contra os impostos cobrados pela monarquia inglesa. Foi a luta pela independência dos EUA. Porém, os norte-americanos sabiam que não ter nenhum governo levaria ao caos, e que a função primária do governo é cuidar da defesa nacional e instituir um sistema judicial. Mas os “pais fundadores” da pátria tinham duas premissas: uma, o governo não deve depender de políticos e burocratas altruístas e angelicais (que não existem); outra, não tinham a intenção de permitir que o governo se tornasse um mecanismo para “roubar” os frutos do trabalho de um homem e dar a outro que não trabalhou para obtê-los.

A Constituição dos Estados Unidos foi elaborada para preservar as liberdades individuais e ter um governo com poderes limitadíssimos. A vida de um indivíduo pode ser vista em duas grandes partes: uma é o espectro de sua liberdade; outra é o espectro de suas ações comandadas por um aparato de coerção e controle, o governo. Os fundadores da nação norte-americana sabiam que quanto mais atribuições fossem dadas ao governo, maiores seriam os impostos, mais fortes seriam os controles sobre a vida das pessoas, e os poderes dos políticos e dos burocratas seriam crescentes. Cada vez mais a vida humana sairia do controle do indivíduo e passaria ao controle do Estado.

Leia também:A raiz do mal venezuelano (editorial de 14 de agosto de 2017)

Leia também:A história de uma geração que não cresceu (artigo de Rodrigo Neves, publicado em 21 de junho de 2017)

Em sua obra O Manifesto Comunista, Marx e Engels propunham a ditadura do proletariado – aquilo que chamavam de “socialismo” –, cuja construção dependeria de três coisas: eliminar o direito de propriedade privada (privar o homem dos frutos de seu trabalho); dissolver a unidade familiar (os filhos não pertenceriam mais aos pais, mas ao Estado); e destruir a religião (que para Marx era o “ópio do povo”). Com a queda do Muro de Berlim e a desintegração do império sanguinário soviético, os socialistas passaram a controlar a vida das pessoas por meio dos impostos, de excessivos poderes governamentais e da estatização de tudo que pudessem, desde o preço do ingresso que um bar cobra de homens e mulheres até que músicas podem ser tocadas no carnaval baiano.

O pai de Pítocles reclamava do excesso de gastos do filho, que vivia lhe pedindo sempre mais dinheiro, e recebeu do filósofo Epicuro o seguinte conselho: “Se queres enriquecer Pítocles, não lhe acrescentes riquezas, diminui-lhe os desejos”. É assim que devíamos agir contra a voracidade do governo, que insiste em crescer, confiscar sempre mais de nossa renda e controlar nossas vidas. A fibra de um povo é tão maior quanto menos ela depende do governo, que no fim das contas é um pai terrível.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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