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Afinal de contas, o que está acontecendo com o Brasil? O país que há poucos anos estampava a capa da prestigiada revista The Economist como exemplo de sucesso agora atravessa a mais dura crise econômica de sua história. No campo econômico, é possível apresentar um conjunto de fatores que ajudam a entender como chegamos a esta situação.

O modelo de crescimento puxado por expansão de gastos com consumo das famílias e do governo esgotou-se nos primeiros anos do governo Dilma. Em vez de realizar as reformas necessárias, Dilma resolveu escolher um atalho, batizado por sua equipe de “nova matriz econômica”. A lista de erros desta aventura é extensa. Descontrole nas finanças públicas; adoção de políticas exóticas, como a tentativa de baixar na marra a taxa de juros num contexto de expectativas de inflação em alta; e um controle artificial nos preços administrados pelo governo, especialmente as tarifas de energia elétrica, estão entre os seus principais equívocos.

É verdade que o cenário externo também não foi dos melhores, especialmente com a queda no preço das commodities. A economia mundial, nos primeiros anos do governo Dilma, esteve longe de seus melhores dias, mas culpar a situação externa pela situação brasileira é um equívoco.

Não há mágica ou atalhos que promovam um desenvolvimento sustentável de longo prazo

A piora nas condições econômicas, no entanto, não explica o pesadelo brasileiro. É preciso acrescentar a profunda deterioração das condições políticas. Dilma nunca foi muito afeita ao tratamento com políticos, especialmente do chamado “baixo clero” da Câmara dos Deputados, mas a situação em nada lembra um “golpe de Estado”, como sustenta o Partido dos Trabalhadores.

Enganaram-se também aqueles que acreditaram que a saída de Dilma seria a solução para todos os problemas do país. A crise política parece não ter fim e a razão é simples. A base do governo de Michel Temer está envolvida em graves problemas de corrupção. Três ministros caíram no primeiro mês de governo.

Na área econômica, aqueles que esperavam um conjunto de ações rápidas, especialmente para conter o desequilíbrio fiscal, ficaram profundamente decepcionados. O governo até agora não apresentou nada além de algumas boas intenções. Nada de cortes importantes de gastos ou de medidas para recomposição das receitas afetadas pela crise. A equipe econômica liderada pelo ministro Henrique Meirelles é de alta qualidade, mas até agora, aparentemente, não está dando as cartas.

A situação é ruim e o decreto de calamidade nas finanças públicas do estado do Rio de Janeiro as vésperas dos Jogos Olímpicos é mais um exemplo do caos fiscal do país. Aos brasileiros resta a esperança e a lembrança de que, apesar de todos os problemas, o Brasil continua sendo um mercado importante (não é sem motivos que continuamos atraindo cerca de US$ 60 bilhões em Investimento Direto Externo).

A crise conjuntural irá passar, mas os desafios para superar a armadilha da renda média continuarão intactos. Além de ajustar as finanças públicas, precisaremos de uma agenda de ampliação da produtividade e da competitividade externa. Precisaremos também aprender que não há mágica ou atalhos que promovam um processo de desenvolvimento sustentável de longo prazo. A luz no fim do túnel ainda é bem fraca, quase imperceptível, mas é preciso acreditar que um dia o país acordará deste pesadelo.

Marcelo Curado é professor do Departamento de Economia da UFPR.
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