• Carregando...
 | André Tambucci/Fotos Públicas
| Foto: André Tambucci/Fotos Públicas

Dias atrás, um pai foi multado em mais de 10 mil libras por levar a filha para a Disney durante o período letivo. Certo, isso aconteceu na Inglaterra e foi manchete nos principais jornais do país. O Estado por lá não perdoa: criou um sistema público de educação à custa dos impostos dos cidadãos, debateu exaustivamente um currículo cujo objetivo principal é formar pessoas capazes de manter o que é importante e mudar o que não atender mais ao conjunto da população, e um pai acha que pode tirar a menina da escola para que ela tenha alguns dias de lazer e diversão? E a comunidade, como fica?

Aí reside a questão fulcral do ensino público: o Estado não usa os recursos dos tributos para que um rapaz ou uma moça possam ter um futuro melhor, mas para que a comunidade tenha um futuro melhor! Por isso existem vagas para médicos, engenheiros, professores. Porque essas funções são fundamentais para o bem comum, aquela ideia grega de polis ou, como diziam os romanos, civitas – palavras que não se referem ao lugar ou às pessoas, mas ao lugar transformado pelas pessoas.

Cidadãos são os que a escola forma e a família não distorce ou rivaliza

No Brasil, o governo federal apresentou a Base Curricular Comum do ensino fundamental. Ali está o que alguns especialistas consideram o mínimo necessário para que crianças dos 6 aos 15 anos aprendam. Mas aprender para se tornarem o quê? Por aqui, como é sabido, o dinheiro dos impostos gera estruturas precárias, professores mal remunerados, insegurança e violência, péssima formação técnica, científica e política. Com essa realidade, o que mesmo o currículo comum veio para mudar?

Penso, depois de mais de 30 anos de sala de aula, acompanhando, ora esperançoso, ora cético, sempre preocupado e nunca indiferente, que o primeiro passo para refundar a escola pública em nosso país é o Estado olhar para ela como a mãe olha para o filho há muito esperado: com olhar de urgência e paixão, de cuidado e alegria, de diligência e entusiasmo. O Estado é a expressão de seus cidadãos e os cidadãos são os que a escola forma e a família não distorce ou rivaliza. Mas, para que isso ocorra, é fundamental uma família que exija um Estado que invista em uma escola que funcione. E é disso que precisamos. Para que por aqui também leiamos notícias como a que saiu no Metro londrino e que, sem espanto, digamos apenas: “Imagina! Fazer a menina faltar aula só pra leva-la pra Disney? Absurdo!”

Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor no Curso Positivo.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]