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Arthur Schopenhauer disse certa vez que a vida é, aos olhos do jovem, um longo futuro. Longo ou breve o modo como a vida se apresenta ao jovem, encontra-se ele imerso numa das etapas mais decisivas de sua existência. Em que sentido?

A juventude é um modo consciente de encarar a vida, amar, sonhar, ousar, exercer a liderança, ser cidadão e protagonista de ações que contribuam para o bem-estar da família, da Igreja e da sociedade. É próprio do jovem abrir-se ao discernimento do sentido da vida, proclamar o sim à verdade e ao diálogo, à participação, ao esforço permanente pela paz e ao respeito pelas culturas.

É admirável quando o jovem procura dizer não ao individualismo, ao preconceito, à indiferença, ao consumismo, à intolerância, à injustiça, à discriminação, à marginalização, à corrupção e à violência. É digno de aplauso o jovem que age em prol do primado do sagrado sobre o profano, da ética sobre a técnica, do testemunho sobre as palavras, do serviço sobre o poder.

Engana-se todo aquele que simplesmente enuncia o jovem como problema, em vez de identificá-lo como agente idealizador de outro mundo possível. É provável que o jovem venha eventualmente a cometer, ao longo de seus passos, muitos erros, alguns por inocência e outros por inexperiência, o que não é de todo ruim. A aprendizagem que pode alcançar dos próprios erros acaba sendo para ele uma boa escola, tal como se deu com o jovem Francisco, há mais de 800 anos, em Assis, na Itália.

Engana-se todo aquele que simplesmente enuncia o jovem como problema, em vez de identificá-lo como agente idealizador de outro mundo possível

Desde a sua infância, Francisco mostrou-se alegre, cortês, generoso, desapegado de si e fiel a seus propósitos. Distinguia-se pela compaixão para com os pobres que encontrava pelo caminho, a ponto de dar-lhes abundantes esmolas. No entanto, chegando à juventude, longos dias foram o tempo que Francisco dedicou ao discernimento da vontade de Deus para com ele. Junto aos amigos, não raras vezes mostrava-se distante e introspectivo. Subtraía-se da presença dos companheiros para ir discretamente rezar ou repartir alguma esmola com os mendigos das ruas. Queria tanto estar em alguma outra cidade, onde, como desconhecido, pudesse trocar as próprias roupas com algum pobre, para experimentar o que era pedir esmolas pelo amor de Deus. Foi aos poucos aprendendo a viver em sintonia com a manifestação dos desígnios divinos para com ele. Uma de suas primeiras e inesquecíveis lições se deu com os leprosos, a tal ponto de tornar-se capaz de vencer a si mesmo inúmeras vezes, tanto se dirigindo ao encontro deles como lhes mostrando amor e compaixão.

“Igreja e Sociedade” é o tema da Campanha da Fraternidade de 2015 que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propôs. Tema esse que não deixa de ser um convite para o jovem de hoje refletir em que pé se encontra sua relação com Deus, com a Igreja (a comunidade religiosa) e sua solidariedade com os mais pobres. Refletir sobre as mais diversas influências que às vezes estão a incidir no seu modo de ser, fazer escolhas, amar e crer.

A Semana Santa em curso, assim como a Páscoa do Senhor que se avizinha, é um tempo mais que oportuno de reflexão para o jovem. Um momento para imbuir-se da mesma inspiração que levou o Mestre de Nazaré a fazer do amor o seu mais memorável testamento.

Frei Claudino Gilz é coordenador de Ensino Religioso do Colégio Bom Jesus.
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