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 | Gilberto Abelha/Arquivo Jornal de Londrina
| Foto: Gilberto Abelha/Arquivo Jornal de Londrina

Em poucos dias nós, curitibanos, estaremos presenciando os momentos finais de um sistema de transmissão que durante décadas esteve presente em nossos lares. Em 31 de janeiro ocorrerá o chamado “switch off”, jargão técnico utilizado para marcar o desligamento do sinal analógico de televisão transmitido na capital e região metropolitana. Certamente, não foi tarefa simples chegar a este ponto, uma vez que houve necessidade de planejamento detalhado e grandes investimentos no novo sistema. Com intensiva, eficaz e bem-humorada propaganda as emissoras, desde o ano passado, têm alertado a população sobre tal mudança. Em princípio, adotadas as recomendações técnicas necessárias, não se corre o risco de não receber o sinal em nossos monitores, uma vez que a tevê digital já se encontra entre nós desde 2008.

Com a aproximação da data, não posso deixar de refletir e comentar sobre o evento, uma vez que participamos dos ensaios iniciais e acompanhamos a implantação da primeira transmissão do sinal de televisão digital em Curitiba pela Rede Paranaense de Comunicação, cujo início de transmissão foi seguido pelas demais emissoras. Há de se mencionar, naquele ano, o ato de outorga oficial dos novos canais digitais às emissoras pelo então ministro das Comunicações, Hélio Costa, realizado nas dependências da UTFPR.

Meus alunos dizem que quase não assistem mais à televisão como a conhecemos

Desenvolvida no fim dos anos 20 do século passado, e trazida ao Brasil por Assis Chateaubriand, então dono dos Diários Associados, nos início dos anos 50, a tevê analógica reinou durante décadas levando informação e entretenimento a milhões de brasileiros, considerada por estudiosos como um fator de unidade nacional. Marcelo Alencar, em capítulo de seu livro História da Comunicação no Brasil, relata uma engraçada história da viagem de Chateaubriand aos Estados Unidos, em 1948, para adquirir o primeiro sistema comercial de tevê, ainda com transmissão em preto-e-branco. Recebido por David Sarnoff, presidente da Radio Corporation of America (RCA), este quis, durante a visita, brindar Chateaubriand com a apresentação de um novo sistema com transmissão de sinais a cores. Irritado e colérico, segundo a descrição dos presentes, Chateaubriand rasgou os contratos já assinados, ao considerar-se enganado por adquirir equipamentos ultrapassados. Levou algum tempo para convencê-lo de que o sistema ainda se encontrava em estágio de desenvolvimento e não podia ser comercializado. De fato, a tevê analógica com transmissão de sinais a cores foi implantada no Brasil somente em 1972, com a adoção do padrão brasileiro, conhecido como PAL-M.

Vivendo em um mundo de rápidas e profundas transformações tecnológicas, que têm causado enorme impacto em nosso ambiente social e econômico, e provocado significativas mudanças em nosso comportamento, a migração do sistema analógico para o digital pode ser considerada como mais um passo nesta trajetória. Com um sistema de alta definição, que pode ser medido pelo elevado número de linhas reproduzidas no monitor, e um robusto sistema de transmissão e recepção, a tevê digital apresenta um sinal de altíssima qualidade do qual não abrimos mais mão, podendo, inclusive, ser recebido em nossos aparelhos celulares.

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Entretanto, o grande desafio que se apresenta às emissoras é o declinante número de telespectadores em razão da concorrência de meios de comunicação como a internet. O avanço das redes de comunicação e a possibilidade de receber sinais de vídeo em computadores, tablets e celulares torna a audiência mais seletiva e competitiva. Em aulas que ministro sobre esses temas, sempre me surpreendo quando, perguntados, os alunos respondem que quase não assistem mais à televisão como a conhecemos, dedicando-se a empregar os dispositivos já mencionados para acessar informações e assistir a seus programas preferidos. Isto é ainda mais evidente quando se observa o crescimento exponencial da audiência em plataformas de transmissão de vídeo através do chamado streaming, como comercializadas pela Netflix, Apple, Google e, mais recentemente, Amazon, muitas das quais com conteúdo próprio de programação que tem conquistado milhares de espectadores.

Alexandre Pohl, doutor em Engenharia Elétrica, é docente do câmpus Curitiba da UTFPR, onde ministra disciplinas na área de Telecomunicações.
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