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Neste novembro de 2015, Herbert José de Sousa, o Betinho, completaria 80 anos de vida. Ele se destacava pela capacidade impressionante de mobilizar pessoas para grandes causas, pelas quais se dedicava com sua alma. Sua vida não permitia a passividade; para ele, lutar pelas causas era uma conjugação do verbo viver.

Sua primeira luta foi por saúde. Assim como sua mãe e seus irmãos – o músico Chico Mário e o cartunista Henfil –, Betinho era hemofílico, ou seja, dependia de frequentes transfusões de sangue para sobreviver, isso numa época em que o comércio de sangue era uma prática legalizada e comum: quem precisava de sangue tinha de pagar,

Católico praticante de comunhão diária, Betinho também via na fé cristã a obrigação de lutar contra a desigualdade social, mesmo que algumas vezes os padres não concordassem com isso. Seu ativismo na juventude católica significou defender as Reformas de Base do governo João Goulart, no qual trabalhou como assessor no Ministério da Educação.

Para Betinho, é a cultura que muda o país, ou seja, não se deve esperar a ação do governo se podemos tomar a iniciativa

Integrante da Juventude Católica, decidiu criar a corrente política socialista Ação Popular (AP). Perseguido pela ditadura militar, exilou-se no Chile com outros membros da sua organização, como Plínio de Arruda Sampaio. Sem sorte, teve de fugir do Chile em 1973 quando lá também ocorreu um golpe militar, que resultou no assassinato do presidente Salvador Allende.

Defendeu a proibição do comércio de sangue, medida que foi aprovada na Constituição de 1988. A essa altura, entretanto, já havia descoberto ser portador do vírus da Aids, que adquiriu com transfusões de sangue, mesmo destino de seus irmãos e de 10 mil hemofílicos no Brasil, vítimas de empresas farmacêuticas norte-americanas que forneciam material contaminado.

Fundou e presidiu a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, a Abia. Sonhava com a descoberta da cura, mas não resistiu: em 9 de agosto de 1997, Betinho morreu em decorrência de complicações resultantes da doença.

Antes disso, em 1993, criou um dos maiores movimentos sociais do Brasil, a Ação da Cidadania, que pretendia erradicar a fome e a miséria. Milhões de brasileiros se somaram nessa causa que, anos depois, inspirou políticas públicas, como o programa Fome Zero. Para Betinho, é a cultura que muda o país, ou seja, não se deve esperar a ação do governo se podemos tomar a iniciativa.

Com tanta vida, Betinho não temia a morte. Certa vez, vi uma entrevista em que ele disse que, desde criança, a possibilidade de morrer sempre esteve muito presente. Talvez por isso ele tenha vivido com tanta pressa. Betinho, presente!

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