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Cada vez mais, nossa sociedade se faz propositadamente dependente de mecanismos extremamente frágeis e complexos para seu funcionamento quotidiano. O sistema de geração e distribuição de eletricidade, por exemplo, é provavelmente mais complexo que qualquer outra criação humana, quando consideramos desde os computadores que gerenciam os detalhes das usinas nucleares, térmicas e hidrelétricas à multidão de transformadores e fios espalhados pelo país.

E colocamos ainda outras coisas sobre este sistema já complexíssimo e, consequentemente, fragilíssimo. A dependência que temos hoje do fluxo (elétrico) de dados é absoluta. Sem a internet, seria praticamente impossível publicar hoje um jornal de papel como este, por exemplo, mesmo isto sendo coisa que já existia muito antes da invenção do computador. As folhas de pagamento, do mesmo modo, são digitais, e a maior parte do dinheiro em circulação nunca teve outra forma que não bits e bytes. Há até mesmo um movimento querendo o fim do papel-moeda, fazendo com que todo comércio dependa absolutamente do bom funcionamento de todos estes sistemas superpostos de geração e distribuição de eletricidade, fluxo de dados, produção, leitura e manutenção de bancos de dados etc.

Não se pode confiar no que é frágil, mas apostamos tudo nisto

Igualmente, se a tragédia que acometeu Cuba na metade do século passado acontecesse agora em algum outro lugar, deixando um país isolado do resto do mundo por seus governantes, não seria mais possível manter em funcionamento os automóveis. Aqueles belos carrões dos anos 50 continuam rodando por força da necessidade na ilha-prisão dos irmãos Castro, mas os carros de hoje não conseguiriam resistir tanto tempo nem mesmo se houvesse – como não há em Cuba – fabricação e comércio de peças. Eles são frágeis demais, e hoje em dia para termos carros precisamos, mais uma vez, de toda uma infraestrutura de manutenção e fabricação, ela também, por sua vez, sobreposta a outras infraestruturas complexas de que tudo depende.

A globalização ainda faz com que seja – enquanto tudo estiver funcionando bem, é claro – mais barato comprar coisas produzidas literalmente do outro lado do mundo, frequentemente com matéria-prima produzida aqui ao lado. O resultado é que a especialização regional que a finada União Soviética tentou fazer, regionalizando a produção de cada item e distribuindo-o por todos os países que compunham aquele império, acabou por tornar-se realidade nos dias de hoje. Hoje todos os telefones vêm do Oriente, por exemplo, num sistema de comércio absolutamente dependente dos fluxos de dados descritos acima, de todo o complexíssimo sistema de produção e distribuição de combustível mundo afora etc.

Não se pode confiar no que é frágil, mas apostamos tudo nisto.

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