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Quantos atentados terroristas foram cometidos semana passada? Sim, não houve só o da boate nos EUA. Alguém está contando? Estaríamos distantes do tempo em que isso será normal, parte do dia a dia, não um horror, mais um incômodo? O fato de a mídia não noticiar todos ou, no máximo, informar a maioria como se fosse coisa corriqueira não seria sinal de que já vivemos assim?

Nós, brasileiros, sabemos o que é isso, como é viver habituado ao crime, ao terror. São mais de 60 mil homicídios ao ano, números que deveriam falar por si, mas e daí? Seguimos a vida em meio à insegurança pública, aprendendo a ser espertos, não “dar mole”. Se acontece com alguém próximo, sofremos, sim, mas não como se fosse inesperado, mais como os azarados da vez. Não é assim? Quão insensíveis não precisamos ser, tornando-nos indiferentes até certo ponto, para suportar viver nesse estado de medo constante?

Semana passada visitei a Mesquita de Curitiba. Estacionei o carro ao lado da Igreja do Rosário e segui a pé, passando pela praça Garibaldi e adiante. Mudei de trajeto umas três vezes, por receio de ser assaltado. Se o fosse, sentiria-me um tolo, afinal, por que não parei em estacionamento mais próximo? Por “sorte”, escapei.

Um muçulmano sendo eleito – seria verossímil?

Na Mesquita, um tipo diferente de medo. Em função do terror islâmico, é óbvio que tanto ocidentais como muçulmanos que condenam o terrorismo se vejam com receio, não sabendo bem como lidar uns com os outros. Aos poucos, com o gelo quebrado e as conversas iniciadas, o temor diminuiu, dando lugar à curiosidade dos visitantes e à abertura ao diálogo de quem recebia.

A razão da minha ida foi a leitura de Submissão, de Michel Houellebecq – já falei desse livro aqui. A quem nada sabe sobre, a história se passa na França, em 2022, quando um presidente muçulmano moderado é eleito em meio a uma guerra civil entre muçulmanos e identitários (leia o livro para entender). Mas essa guerra faz parte da rotina, da paisagem. A mídia já não noticia, os franceses não se importam tanto, apenas se preocupam em desviar dos pontos de conflito. Quão próximo, não? Mas um muçulmano sendo eleito – seria verossímil?

Mais que verossímil. O novo prefeito de Londres é muçulmano, parece que tão moderado quanto Ben Abbes, o presidente francês na ficção de Houellebecq. Tal como Abbes, Sadiq Khan começou, com habilidade política, a impor seus valores. Aproveitando-se do griteiro feminista contra um anúncio publicitário mostrando o que seria um “corpo ideal” para exibir na praia, o prefeito proibiu o anúncio, dizendo que isso diminui as mulheres, fazendo-lhes terem vergonha de seus corpos e, por isso, “passou da hora disso chegar ao fim”. Não há registro, até o momento em que escrevo, de maiores reclamações contra a proibição. Fosse o prefeito um católico...

Mas nem é preciso o governante ser muçulmano. Depois dos ataques sexuais no ano-novo, na Alemanha, cometidos em sua imensa maioria por imigrantes muçulmanos recém-chegados, o ministro da Justiça, Heiko Maas, prometeu banir anúncios que aparentem tratar a mulher como objeto sexual. Daí para dizer que se elas estivessem de burca não teriam sido atacadas, demora quanto tempo? No livro, no que Ben Abbes foi eleito, a violência, os atentados diminuíram, praticamente acabaram, quase que instantaneamente. Haverá atentados em Londres durante o mandato de Sadiq Khan? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos. Ou leia Submissão.

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