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Ano da primeira eleição direta para presidente. Tinha 13 anos, era piá de prédio, esquerdista em formação por fotossíntese, como quase todo esquerdista da minha geração e os que nasceram depois. Adorava assistir aos debates entre os candidatos. Era uma época em que os marqueteiros eram amadores, então os políticos ainda tinham personalidade própria, não tão maquiada e pasteurizada quanto hoje.

Na verdade, tudo era amador. Ninguém sabia muito bem que regras funcionariam melhor, o que podia ou não, então era hilário escutar os pedidos de “aparte”, que deixavam todos sem saber o que fazer, como contar o tempo etc. Brizola chamando a plateia de “filhotes da ditadura”, Maluf retrucando, chamando-o de desequilibrado, Afif Domingos tentando convencer que sabia linguagem de sinais, Marília Gabriela quase desesperada, sem saber como conter Ronaldo Caiado, Lula sendo Lula, enfim, saudades.

Por isso, preciso agradecer a esta Gazeta do Povo por ter recuperado um pouco desse “amadorismo” na semana passada, ao promover uma série de debates “mano a mano” com a maioria dos candidatos a prefeito de Curitiba, transmitidos pela internet – continuam disponíveis, aliás, no site do jornal. Quase nenhuma regra, apenas um relógio de xadrez, com os próprios candidatos controlando seu tempo, podendo falar e perguntar o que quisessem, sem mediação.

Aquela era uma época em que os marqueteiros eram amadores, então os políticos ainda tinham personalidade própria

O primeiro deles, entre Fruet e Greca, foi o único divertido, porém. Ninguém sabia como proceder e isso propiciou alguns embates verdadeiros. Foi engraçado assistir Fruet acusar Greca de ser apoiado por Richa e Ducci, como se ele não tivesse sido apoiado por Dilma e lhe apoiado no ano passado, contra o impeachment. Igualmente engraçado vê-lo acusar Greca de querer ser prefeito por vaidade pessoal, como se ele não tivesse saído do PSDB para se aliar ao PT e conseguir ser prefeito na última eleição. E Greca, apesar do carisma que lhe mascara as falhas, não teve como esconder ser feito mais de retórica que de substância, sendo que a inabilidade com o relógio parecia simbólica de quem muito promete, mas pouco diz de onde tirará recursos orçamentários para fazer.

Já os seguintes foram jogos de compadrio, todos jogando pelo empate. Afonso Rangel, do PRP, parece não ter sido avisado de que era debate; foi, na prática, entrevistado por Xênia Mello, do partido da contradição em termos, que encontrou boa oportunidade para treinar trejeitos perante as câmeras e repetir a cantilena socialista de sempre. O terceiro, entre Ney Leprevost e Tadeu Veneri, foi constrangedor. O primeiro errou de endereço, chegou atrasado e se comportou como tiete do suposto adversário, chegando ao ponto de dizer que ele teria ganho seu voto se não fosse petista. Seria engraçado, não fosse ele sincero. Veneri poderia ter sambado como quisesse, mas é tão “aristocrata” quanto Leprevost. Comportou-se, então, como companheiro de clube que encontra o outro no “bar do tênis”, tomando club soda e falando do clima. Por fim, Maria Victoria, filha do ministro da Saúde e da vice-governadora do estado, e Requião Filho; esse não consegui assistir até o fim, deu sono. Tiveram tempo para se preparar e se adequar ao formato, mas foram anódinos, entrevistando um ao outro.

Se o voto fosse facultativo, iria à praia, confesso. Mas, sendo obrigatório, terei de tomar um engov e escolher o menos pior da vez, como sempre. Agora, se me dão licença, assistirei a outro debate de 1989, quando o Maluf achava que deveríamos seguir o exemplo da Bolívia. Era divertido, ao menos. Saudades.

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