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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

O Produto Interno Bruto no início dos anos 60 era de vinte bilhões de dólares, atingiu o primeiro trilhão em 2006 e 2,5 trilhões em 2011, quando começou o declive. Dados do IBGE são confiáveis, mas susceptíveis a discussões metodológicas e ao artificialismo do valor da moeda brasileira em relação à norte-americana em alguns momentos, provocando distorções no significado dos números.

Sem educação científica há troca de patrão, não de condição

O país saiu do chão há menos de 60 anos para se apresentar entre os dez mais. Contudo, enriquecemos de verdade? Na reflexão para articular a resposta, o olhar vagueia pelos objetos do escritório onde elaboro o texto. O teclado, o mouse, o computador portátil, a tela adicional que apresenta os gráficos, o telefone celular, luminária, caneta esferográfica, cortina com ilhós pronto. Todos os itens são fabricados em outros países. Nos Estados Unidos foram engendrados, na China, industriados. Brasileiro, só o mogno da mesa e o papel dos livros.

Nos anos 30 exportávamos ouro verde. Muitas bancarrotas depois, a singeleza dos itens vendidos ao exterior continua a mesma. Minério de ferro bruto, do jeito que saiu da terra, 13%; soja in natura, 7%; petróleo cru, 8%. Produtos que resultam da aplicação de inteligência – remédios, químicos, armas – respondem por menos de 10% da pauta. Na faixa intermediária entre os primários e os elaborados, estão os alimentos toscamente processados que seguem ao exterior para forma final. Vendemos grãos de café e compramos ampolas para as cafeteiras.

Os pesquisadores Ricardo Hausmann e Cesar Hidalgo criaram o índice de complexidade econômica publicado em atlas com elegante visualização dos números de todos os países do planeta. Ao examinar os produtos exportados pelos Estados Unidos em 2012 se vê altíssima diversidade pois há soja e ouro (1% cada um do valor total) e, ao longo de 1.234 espécies de bens materiais exportados, o de maior peso (automóveis) alcança apenas 4% do total de 1.3 trilhões de dólares. Os americanos exportam de naves espaciais a tapioca!

A diversidade social, uma das expressões da liberdade individual, não se limita a preferências sexuais, identidades étnicas, religiosas, culturais. Sem diversidade econômica, a exemplo da Venezuela e Arábia Saudita onde o petróleo responde por 90% das exportações, a concentração de poder econômico inibe as demais variâncias. Poucos controlam a geração da riqueza e os dependentes se alinham com a oligarquia para sobreviver.

O Brasil não é tão medíocre quanto a Venezuela, mas o fato dos oito itens rudimentares, que na lista de exportações precedem aviões, carros e químicos, representarem 45% do valor exportado denota que a ignorância é nosso principal produto. No cordão dessa pobreza intelectual seguem as pessoas inaptas para o idioma, matemática, biologia, geografia, história.

A China é a principal compradora dos produtos primários. Antes nos sentíamos quintal dos Estados Unidos, agora somos a fazenda onde os chineses vêm buscar minérios e proteínas. Sem educação científica há troca de patrão, não de condição.

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