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Quase todos os adolescentes brasileiros são invisíveis; resta saber de que maneira eles tentam superar essa invisibilidade. Não tenho dúvida de que a maioria absoluta procura tornar-se visível utilizando os métodos consagrados: estudo e trabalho. A fé – mesmo tão perseguida nos dias de hoje – também desempenha um papel importante na luta para ganhar a vida.

Existe, porém, a minoria que tenta deixar de ser invisível recorrendo ao crime. Dizer que esses jovens em conflito com a lei não fizeram, em algum instante de suas vidas, uma opção consciente pelo mal seria cometer uma terrível injustiça com a maioria de jovens pobres que se recusam a entrar no mundo da criminalidade. As pessoas comuns ainda dizem "não" ao crime. Preferem ser invisíveis a ser marginais.

Alcides do Nascimento Lins era filho de uma ex-catadora de lixo. Foi aprovado em 2007 no curso de Biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco. Seu nome apareceu na mídia nacional como exemplo de jovem que soube vencer na vida, apesar de todas as dificuldades impostas pelo meio. Esse rapaz estudioso e sorridente deixou de ser invisível por seus méritos.

No dia 5 de fevereiro de 2010, dois bandidos – um deles menor de idade – abordaram Alcides em sua casa, no bairro da Torre, em Recife. Queriam executar outra pessoa, mas assim mesmo decidiram matar o universitário. Alcides morreu inocente aos 22 anos.

Um dos assassinos de Alcides foi condenado a 25 anos de prisão; o outro, a três anos de medida socioeducativa. O nome do então adolescente é D. F. do Nascimento. Durante o período de reclusão socioeducativa, D. foi acusado de torturar um companheiro de cela. Não sei onde está agora; mas sei que Alcides não está mais entre nós.

Penso nesses dois jovens: Alcides e D. Quis o destino que ambos compartilhassem o sobrenome: Nascimento. Alcides optou pelo bem; D. optou pelo mal. Alcides queria se formar; D. queria matar. Alcides sorria; D. ameaçava. Alcides ajudava a mãe; D. ajudava o comparsa. Alcides estudava Biomedicina; D. amparou-se no ECA. A sociedade errou com D.? É possível. Mas errou muito mais com Alcides.

Sim, a educação, o trabalho e a fé são os melhores caminhos para um jovem superar a fronteira de invisibilidade que o separa do mundo. Sim, a vitória final será do amor, da sabedoria e de Deus. Mas de que lado estaremos quando isso acontecer? Apesar de tudo, continuo achando que o ser humano existe para ser Alcides, e não para ser D. Ao contrário do que pensava certo filósofo alemão, somos criados para o nascimento, não para a morte.

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