• Carregando...

Durante muitos anos, a palavra “povo” esteve nas mãos de seus sequestradores. Até bem pouco tempo atrás, só podia usá-la quem era companheiro da esquerda. Mas os escândalos do governo acabaram por destruir esse cativeiro semântico. Hoje as pessoas são livres para dizer: “Nós somos o povo”. Não precisam mais mostrar a carteirinha do partido nem a estrelinha no peito.

O povo somos nós. Somos nós que trabalhamos, que estudamos, que criamos filhos, que amamos nossas famílias, que pagamos impostos, que fazemos compras no supermercado, que abominamos o roubo, o crime e a chantagem. Somos nós que não temos privilégios, que nunca tivemos milhões ao nosso dispor, que não ajudamos as pessoas só para conquistar os seus votos e as suas consciências. Fazemos o bem sem esperar nada em troca. Somos nós, o povo.

Somos nós que não temos privilégios, que nunca tivemos milhões ao nosso dispor, que não ajudamos as pessoas só para conquistar os seus votos e as suas consciências

O povo é o comerciante que fechou as portas. É o trabalhador que perdeu o emprego. É o eleitor da Dilma que se sentiu enganado. É o eleitor do Aécio que se sentiu ofendido. É o eleitor da Marina que se sentiu violentado. O povo é o aluno que ficou sem aula, é o funcionário público que trabalha com afinco, é o padre que tenta levar as almas para o Céu. O povo é o advogado que defende a lei, o jornalista que diz a verdade, o engenheiro que constrói casas, o médico que salva vidas, a enfermeira que cuida dos doentes. O operário que opera. O camponês que semeia. A mãe que ama.

Rita é o povo. Altas horas da noite, ela ligou para nossa casa pensando que era o CVV. Chorou, chorou, chorou. Disse que estava sozinha no mundo, que havia perdido seus pais. E a Rosângela a ouviu com atenção. Depois ficou pensando nela. Rita e Rosângela são o povo.

O povo é a filha do médico cubano, obrigada a voltar para Cuba. O caminhoneiro que paga para trabalhar. O gay assassinado pelo Estado Islâmico. O estudante venezuelano preso por gritar contra o governo. O fazendeiro que teve a terra invadida pelo MST. O policial que perdeu a vida só porque tinha um distintivo. O empresário que vai falir em poucos meses. Todos eles são o povo. Não pertencem a movimentos sociais, não estão filiados a partidos, não acreditam em promessas de campanha. São os que sofrem o poder, não os que o exercem.

Quando penso em povo, penso no meu bisavô Costa, abandonado criança no Brasil, depois maquinista de trem. Penso no meu avô Briguet, juiz de futebol e pintor de carros. Penso em meu pai bancário e minha mãe professora. Todos já se foram. Penso em quanto eles lutaram e sofreram para que eu estivesse aqui, escrevendo estas palavras e dizendo: Eu também sou o povo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]