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| Foto: Andressa Anholete/AFP

No fim, a briga mais complicada do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em busca da reeleição foi no Supremo Tribunal Federal, e não no plenário. No Judiciário, Maia precisou mostrar que o trecho do Regimento Interno que proíbe a reeleição não se aplicava a ele, que estava exercendo um mandato-tampão depois da queda de Eduardo Cunha. Com a liminar de Celso de Mello em mãos, permitindo que ele disputasse a eleição, Maia garantiu mais dois anos no cargo sem precisar de segundo turno: foram 293 votos, quando 253 teriam bastado para conseguir a reeleição já no primeiro escrutínio.

Maia obteve ampla vantagem mesmo em uma eleição potencialmente mais complicada que a de Eunício Oliveira, na véspera, para a presidência do Senado. Eunício tinha apenas um adversário, José Medeiros (PSD-MT), cuja candidatura era vista desde o início como inviável. Na Câmara, a oposição de esquerda apresentou um candidato: André Figueiredo, do PDT cearense. De última hora, apareceram postulantes à esquerda e à direita, com Luiza Erundina (PSol-SP) e Jair Bolsonaro (PSC-RJ) se inscrevendo para a disputa. O PSB lançou Júlio Delgado. Mas o risco maior vinha do “centrão”, o bloco fisiológico formado por mais de uma dezena de partidos e que chegou a ter dois candidatos: Jovair Arantes (PTB-GO) e Rogério Rosso (PSD-DF), respectivamente relator e presidente da comissão especial do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara. Rosso (que disputou o mandato-tampão contra Maia em julho de 2016, perdendo no segundo turno) desistiu e Jovair foi para a votação como o único candidato do “centrão”. Ele ficou em segundo lugar, mas com 105 votos, insuficientes para forçar o segundo turno.

Nem Maia nem Eunício Oliveira são nomes capazes de gerar entusiasmo

Por mais que os partidos do “centrão” estejam hoje alinhados com o governo, a própria natureza do bloco mostra que, no comando da Câmara, criaria dificuldades para vender facilidades na hora de colocar em votação as reformas essenciais que o governo Temer pretende ver aprovadas. Um exemplo disso ocorreu em dezembro, quando o “centrão” ameaçou colocar empecilhos à tramitação da reforma da Previdência caso Temer nomeasse um tucano para a Secretaria de Governo, no lugar de Geddel Vieira Lima. Na época, Jovair afirmou que “em se concretizando [a nomeação de um tucano], claro que vai ter efeito para a Previdência. Toda ação tem uma reação. É a Lei de Newton”; Rosso acrescentou que, “antes de [a definição do novo ministro] se concretizar, o governo vai reunir a base, porque estamos diante de importantes votações, como a da Previdência”. O cargo acabou ficando vago até minutos depois da vitória de Maia: com a demonstração de força do Planalto, Temer se viu em posição mais confortável para colocar no posto Antônio Imbassahy, ex-líder do PSDB. Mesmo assim, o “centrão” ainda domina um número de votos que pode ser importante para Temer no futuro, especialmente na votação de emendas constitucionais, que exigem maioria qualificada de três quintos dos deputados em dois turnos.

Mas, ainda que represente uma adesão mais tranquila à pauta do governo, Maia não está isento de controvérsias. Ele é o “Botafogo” na delação feita por Cláudio Melo Filho, executivo da Odebrecht, e que vazou em dezembro. Segundo Melo Filho, Maia recebeu uma doação de campanha em 2010 e trabalhou para aprovar uma medida provisória de interesse da empreiteira; por isso, em outubro de 2013, teria recebido R$ 100 mil para quitar pendências de sua campanha à prefeitura do Rio de Janeiro no ano anterior. E não se pode esquecer que o presidente da Câmara foi peça importante na tentativa de emplacar uma anistia para o crime de caixa dois, em novembro, desqualificando como “jogo de palavras” a indignação popular com a emenda que consagraria a impunidade.

Assim, por mais que as eleições de Eunício e Maia signifiquem um apoio mais consistente à pauta de reformas do governo, o que é importante, nenhum desses nomes é capaz de gerar entusiasmo. Assim como fizemos ao comentar a vitória de Eunício, só resta desejar que também Maia trabalhe mais pelo Brasil e menos pelos privilégios de seus colegas.

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