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Até o fim de agosto, estão sendo feitas as apresentações regionais sobre a segunda versão da Base Nacional Comum Curricular, documento que pretende nortear o ensino no Brasil nos próximos anos. É salutar que o governo esteja aberto a debater novamente o assunto. No entanto, pela importância do tema, seria melhor se as discussões, em vez de partirem do legado deixado pelas gestões anteriores no Ministério da Educação (MEC), tivessem outra abordagem.

O conteúdo a ser ensinado nas escolas está hoje descrito de forma superficial nas diretrizes curriculares. Sem uma padronização nacional, não há garantia de que um estudante de um estado do Norte tenha contato em sala de aula com o mesmo conteúdo que um aluno do Sul ou do Nordeste. Também não há garantia de que o conteúdo esteja sendo ensinado no tempo certo, contribuindo com o desenvolvimento cognitivo dos alunos.

As gestões anteriores do MEC optaram pela elaboração de um documento único, com o currículo de todas as disciplinas de todas as séries do ensino básico. Criou-se um calhamaço de mais de 600 páginas que por si só já impõe um desafio e tanto para o debate que o tema merece. Não bastasse a vontade de abraçar de uma vez todo o ensino, o MEC organizou um documento com um claro viés ideológico de esquerda. A primeira versão da base foi bastante criticada por sua tendência esquerdista, escancarada na falta de conteúdos sobre história da Europa, por exemplo, e pela orientação anticapitalista dos textos introdutórios das disciplinas.

Não bastasse a vontade de abraçar de uma vez todo o ensino, o MEC organizou um documento com um claro viés ideológico de esquerda

O que se debate no momento é uma segunda versão que, apesar de melhorada, ainda carrega nas cores ideológicas de esquerda. Estão ali dezenas de expressões que estão longe de ser uma interpretação consensual sobre a realidade – há uma descrição longa, por exemplo, sobre como as forças hegemônicas da sociedade capitalista querem uniformizar os modos de ver o mundo como forma de manter o poder. Frase panfletária inaceitável em um material que orientará a atividade dos professores em sala de aula.

A ideologização está presente na escolha dos eixos e objetivos que norteiam a base curricular. Eles têm pouco foco concreto no aprendizado e dão ênfase demasiada a um processo vago de desenvolvimento do “pensamento crítico”. O documento em debate também carece do rigor desejado ao ensino. Em diversos pontos não fica claro o que se exigirá dos estudantes, o que dificulta o uso do currículo como parte do processo de melhoria do ensino.

Diante de um trabalho com tantos questionamentos, é natural que surjam vozes defendendo que o país ficaria melhor sem nenhum currículo. Mas essa solução não é melhor do que recomeçar o debate para a formulação de uma base neutra ideologicamente e eficiente como ferramenta de organização do ensino. O melhor caminho seria dividir a discussão em partes, para que o currículo de cada disciplina, para cada fase de aprendizado, tenha seu tempo de discussão, com transparência. O país poderia, por exemplo, começar pelos currículos de matemática e língua portuguesa do ensino fundamental. A partir dessa experiência, teria condições de corrigir defeitos e aperfeiçoar a metodologia.

A formulação de um currículo básico – que na proposta brasileira deve abarcar 60% do que se ensina em sala de aula, deixando os outros 40% para as propostas pedagógicas das escolas –faz sentido se ele puder ser usado objetivamente na formação de professores, formulação de materiais didáticos e na avaliação dos estudantes. Se cumprir esse objetivo, sem doutrinação ideológica, o documento será um componente central para uma análise mais completa sobre a qualidade do ensino no país.

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