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A constatação de que o Produto Interno Bruto (PIB) fechará 2015 com diminuição de 3% em relação a 2014 é extremamente grave, sobretudo porque o PIB de 2014 já não havia crescido e fechou igual ao de 2013. Considerando que o número de habitantes do país aumentou em 3,6 milhões nos últimos dois anos, o empobrecimento real e direto da população foi de 4,2%. O conceito de PIB refere-se ao total de bens e serviços finais produzidos no ano e ofertados ao país, e sua divisão pelo total de habitantes dá o padrão de bem-estar médio possível. Entretanto, esse conceito não considera o desgaste do estoque de capital físico usado no processo produtivo durante o exercício.

Quando se retira a depreciação do capital, resta o Produto Interno Líquido (PIL), e esse conceito é importante para avaliar o avanço – ou retrocesso – do país, pois parte do produto bruto deve ser composta de bens de capital (prédios, máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos de trabalho) necessários para recompor o capital desgastado no ano. É no meio de toda essa equação econômica que a queda do PIB é dramática e deveria ter assustado mais os políticos e os dirigentes do país, pois o empobrecimento é grave e precisa ser revertido com urgência.

Apesar da gravidade do quadro econômico e do empobrecimento real, o país vive uma fase de inércia econômica que pode comprometer seriamente o desempenho da economia em 2016, ano em que a população aumentará novamente em 1,6 milhão de habitantes. Se o PIB de 2016 não se recuperar, o empobrecimento prosseguirá e poderá passar a barreira dos 5% da renda nacional. Para a maior parte da população, esses números todos podem não ser bem compreendidos em sua ordem de grandeza, mas muitos são os economistas e especialistas alarmados com a deterioração da situação social derivada da realidade econômica.

O Brasil é tolerante demais com os problemas e lento demais em enfrentar suas próprias tragédias

Apesar do péssimo cenário, há uma inércia econômica geral, em parte provocada pela crise política e pela destruição da ética pública; a Operação Lava Jato, ao contrário do que pessoas próximas ao governo alegam, não é causa do problema, mas meramente a exposição escancarada da nossa crise moral. A inércia começa com o envio ao parlamento de proposta orçamentária para 2016 com déficit primário de R$ 30,5 bilhões, cuja solução foi transferida pelo Executivo aos parlamentares, que estão paralisados ante a falta de saída. O que a presidente Dilma pretendia com essa manobra escapista era levar o parlamento a aprovar aumento de alguns impostos e a recriar a CPMF. Porém, dada a dificuldade de carregar a população com mais tributos – o que seria gravíssimo diante do empobrecimento real médio –, ninguém sabe qual será o orçamento federal para 2016.

O governo da União acenou com uma reforma administrativa para reduzir gastos e melhorar a eficiência da máquina estatal, divulgou alterações tímidas na composição dos ministérios e secretarias, e afirmou que seriam diminuídos os custos com a burocracia estatal. Infelizmente, mais uma vez, o barulho foi maior que os ganhos reais. A economia de dinheiro com as mudanças é desprezível e incapaz de contribuir significativamente para reduzir o déficit orçamentário. Nem o governo nem o parlamento demonstram saber o que fazer, e a população não sabe com que regras deve planejar sua vida e seus negócios, fazendo que o ambiente de incerteza seja mais um desestímulo aos negócios e aos investimentos privados.

Tem se revelado bastante pequena a capacidade do sistema político brasileiro – especialmente os poderes Legislativo e Executivo – em compreender os aspectos técnicos da crise, adquirir a convicção de sua gravidade e adotar a ação política necessária para tirar a nação do caos em que se encontra. Prova da inércia está, também, na falta de solução estrutural para a crise financeira das duas previdências sociais, a dos servidores públicos e da dos trabalhadores privados, e o descaso com que é tratada a constatação de que o Brasil continua em último lugar de competitividade entre os países do G20; está na posição 116 entre 183 países em facilidade para fazer negócios no relatório Doing Business, do Banco Mundial; e caiu da posição 57 para a posição 75 no ranking de competitividade publicado pelo Fórum Econômico Mundial.

Apenas esses problemas deveriam ser suficientes para provocar ampla mobilização política dos representantes do povo no governo e no parlamento e tirá-los do letargo em que se encontram. Infelizmente, ao contrário das nações desenvolvidas, o Brasil é tolerante demais com os problemas e lento demais em enfrentar suas próprias tragédias.

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