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Lula e o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, durante encontro na África do Sul, em agosto de 2023.
Lula e o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, durante encontro na África do Sul, em agosto de 2023.| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Já há muitas décadas, o Irã luta uma guerra contra Israel no modelo de proxy war, ou “guerra por procuração”, em que os ataques são “terceirizados” aos terroristas do Hezbollah no Líbano, do Hamas na Faixa de Gaza, e, mais recentemente, aos houthis do Iêmen. Todos sabem que o regime dos aiatolás dá apoio (financeiro ou logístico) a esses grupos, mas a falta de um ataque direto do Irã sempre funcionou como elemento apaziguador. Isso mudou no último sábado, dia 13, quando centenas de drones e mísseis iranianos foram lançados contra território israelense. O sistema de defesas antiaéreas de Israel, apoiado por aeronaves norte-americanas e francesas, frustrou o ataque: apenas sete armas atingiram Israel, ferindo uma menina árabe-israelense de 7 anos.

A condenação internacional ao primeiro ataque direto do Irã contra Israel foi severa, com praticamente todas as democracias ocidentais se manifestando em termos duríssimos contra a agressão. Já o Brasil do presidente Lula, do chanceler de facto Celso Amorim e de seu boneco de ventríloquo Mauro Vieira, que no papel chefia o Itamaraty, conseguiu se rebaixar ainda mais com uma nota em que, incrivelmente (mas não surpreendentemente), se abstém de condenar o ataque iraniano. O texto diz que o Brasil acompanha, “com grave preocupação, relatos de envio de drones e mísseis do Irã em direção a Israel”. Em primeiro lugar, não se trata de “relatos”, pois o ataque é um fato inequívoco; em segundo lugar, não há “envio de drones”, como se estivéssemos falando de uma encomenda internacional, daquele tipo que Fernando Haddad vem se empenhando em tributar; o que houve foi o lançamento de um ataque armado contra Israel.

A diplomacia brasileira sob Lula dá passe livre aos amigos ideológicos latino-americanos e aos parceiros dos Brics para agredir, dentro e fora de seus países

Além disso, a julgar pelas palavras do Itamaraty, o “envio” preocupou não por ser uma agressão aos israelenses, mas por colocar “em alerta países vizinhos como Jordânia e Síria” – os jordanianos também destruíram artefatos iranianos, mas não porque desejassem ajudar Israel, e sim por medo de que seu território também acabasse atingido. Por fim, ainda há a insinuação de que a guerra do Israel contra o Hamas em Gaza é a responsável pelo “alastramento das hostilidades” a outros países da região, e o cínico apelo “a todas as partes envolvidas que exerçam máxima contenção”, apelo esse que o Brasil costuma fazer apenas depois que as agressões a Israel já aconteceram, deixando subentendido que os israelenses precisam apanhar e, depois, abrir mão do direito de se defender.

Compare-se a linguagem deste vergonhoso comunicado com outro texto do Itamaraty, emitido apenas dez dias antes, comentando o ataque israelense a um consulado iraniano em Damasco, na Síria. Logo de início já se manifesta a condenação brasileira à ação, que causou “mortes e ferimentos entre funcionários diplomáticos e consulares”. Omite-se, muito convenientemente, o fato de que os tais “funcionários” eram oficiais da Guarda Revolucionária iraniana, encarregados de apoiar os grupos terroristas islâmicos e ajudar a planejar seus ataques contra Israel, usando a representação diplomática como escudo assim como os terroristas do Hamas fazem com hospitais e escolas.

Um ataque cirúrgico direcionado a alvos comprovadamente empenhados em agir contra Israel ganha a condenação brasileira; um ataque massivo que teria causado inúmeras baixas civis caso não tivesse sido repelido não recebe o mesmo tratamento. Tudo depende, claro, de quem ataca e de quem é atacado. O Irã é uma das autocracias amigas de Lula e do petismo, que não tiveram o menor pudor de se abster, no último dia 5, em uma votação no Conselho de Direitos Humanos da ONU que prorrogaria a investigação de violações de direitos humanos na repressão dos aiatolás a protestos pelos direitos das mulheres – felizmente, o Brasil acabou vencido e 24 países, incluindo vários com governos de esquerda, apoiaram a resolução. Este é o padrão da diplomacia brasileira sob Lula: os amigos ideológicos latino-americanos e os parceiros dos Brics têm passe livre para agredir, dentro e fora de seus países, e o petismo no poder sempre encontrará uma forma de omitir, relativizar, inventar falsas equivalências morais, justificar ou até mesmo apoiar, expondo o país à vergonha global.

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