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Há indícios suficientes de que a nomeação para o Ministério da Cultura foi o prêmio exigido por Marta Suplicy para, enfim, aderir à campanha de Fernando Haddad

A nomeação da senadora Marta Suplicy (PT-SP) para o Ministério da Cultura, substituindo, a partir de hoje, a desgastada Ana de Hollanda, é mais uma mostra de como as escolhas passadas do ex-presidente Lula ainda influenciam o modo como Dilma Rousseff conduz seu período na Presidência da República. Por mais que todas as partes envolvidas neguem um "acordo", há indícios suficientes de que a nomeação foi o prêmio exigido por Marta para, enfim, aderir à campanha de Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, à prefeitura de São Paulo.

Marta sempre foi a candidata natural do PT à prefeitura da maior cidade brasileira, já tendo exercido esse cargo entre 2001 e 2004. Lula interveio pessoalmente para impor ao PT paulistano o nome de Haddad, cuja gestão no Ministério da Educação ficou marcada, entre outros problemas, pelas sucessivas falhas na realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Irritada por ter sido deixada de lado, a senadora – considerada "puxadora de votos" especialmente entre as classes mais baixas – se recusou a participar da campanha de Haddad até poucas semanas atrás. Agora, ela retorna à Esplanada dos Ministérios, que frequentou no segundo mandato Lula como titular da pasta do Turismo. Segue na memória dos brasileiros o conselho de "relaxar e gozar" que a então ministra deu aos passageiros presos nos aeroportos, no auge do caos aéreo de 2007.

O cálculo eleitoral não termina com a entrada de Marta na campanha petista em troca do ministério. Sua saída do Senado abre espaço para um suplente do Partido da República (PR), que deixou a base aliada de Dilma em março deste ano (para retornar logo depois) e faz parte da coligação de José Serra (PSDB) na disputa pela prefeitura paulistana. Ao entregar mais uma cadeira no Senado ao partido, o objetivo seria enfraquecer o apoio do PR a Serra, que disputa com Haddad uma vaga no segundo turno do pleito em São Paulo.

A saída do PR da base de Dilma, aliás, se deu após a queda do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, em julho de 2011. Sua demissão ocorreu após uma série de denúncias de corrupção, e ele não foi o único a deixar o cargo: só no ano passado também saíram os ministros Antonio Palocci (Casa Civil), Pedro Novais (Turismo), Orlando Silva (Esporte), Wagner Rossi (Agricultura), Carlos Lupi (Trabalho) e Nelson Jobim (Defesa) – outro ministro, Mário Negromonte (Cidades), caiu em fevereiro deste ano. À exceção de Jobim, todos eles estavam envolvidos em escândalos de corrupção e as demissões, apesar de alardeadas como uma "faxina" promovida por uma presidente "intolerante" com o que ela preferiu chamar de "malfeitos", foram meramente de caráter reativo – só quando a situação de cada ministro se tornou insustentável é que Dilma agiu para evitar que o desgaste a atingisse.

É interessante perceber que, dos sete ministros envolvidos em escândalos, quatro já estavam no governo Lula e foram herdados por Dilma: Rossi, Silva, Lupi e Nascimento (que era ministro de Lula, saiu para disputar o governo do Amazonas, perdeu e foi reconduzido por Dilma à pasta dos Transportes). É conhecida a influência de Lula na composição do ministério de Dilma após sua vitória na eleição presidencial de 2010, e a presidente acabou sofrendo as consequências de manter vários nomes indicados por seu antecessor. Da mesma forma, a mudança de terça-feira no Ministério da Cultura não deixa de ser resultado, ainda que indireto, da imposição de Haddad como candidato petista à prefeitura de São Paulo. Assim, Dilma mais uma vez paga o preço das escolhas de Lula, mostrando que a "herança pesada" – nas palavras do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – não parece ficar mais leve com o passar do tempo.

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