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 | Diogo Moreira
| Foto: Diogo Moreira

Dois “tucanos de bico vermelho” que defenderam publicamente o alinhamento do PSDB com o governo Michel Temer nos últimos dias mudaram o tom nesta segunda-feira (19). O prefeito de São Paulo, João Doria, e o governador paulista Geraldo Alckmin deram declarações públicas mais incisivas sobre a permanência na base de Temer, depois da bombástica entrevista do empresário Joesley Batista à revista Época e na véspera do julgamento no Supremo tribunal Federal (STF) do pedido de prisão contra o senador Aécio Neves.

Durante almoço com empresários no Rio de Janeiro, Doria disse que o seu aval à gestão Temer não é “interminável”. Questionado após a solenidade sobre o limite para o seu partido desembarcar do governo, o prefeito respondeu: “A culpabilidade [é o limite]. Se tiver alguma situação que implique o presidente numa culpa flagrante, evidentemente, o PSDB tem que avaliar esse acordo. Mas, enquanto isso, não pode precipitar um juízo e jogar para o alto uma circunstância onde tem que defender os brasileiros”.

Em linha com Doria, Alckmin afirmou que o partido pode sair da base de Temer a qualquer momento. Segundo ele, o PSDB está acompanhando a crise dia a dia. “Podemos sair da base a qualquer momento. Sair é deixar de ter ministério, o que, aliás, eu acho completamente secundário. Quando houve o impeachment, fui contra que o PSDB ocupasse ministérios, sempre fui. Não deveria ter entrado, indicando ministros, mas a maioria decidiu”, ressaltou.

De acordo com Alckmin, há três correntes diferentes dentro do partido. “Tem aqueles que querem sair imediatamente; aqueles que, assim como um casamento, é até que a morte os separe; e a nossa posição, que é aguardar para completar as reformas, questão de 60, 90 dias. Nosso compromisso não é com o governo, mas com a retomada do emprego, o crescimento da economia e da renda da população. Se não saíssemos imediatamente, iríamos piorar a situação”, afirmou.

Logo em seguida, porém, negou que estivesse dando prazo para uma eventual saída da base. “Não tem data, estamos acompanhando os fatos dia a dia, podemos sair a qualquer momento”, repetiu.

O governador tucano disse agora o importante é terminar as reformas. “É o que temos defendido. A reforma trabalhista, que vai estimular emprego e diminuir a informalidade, deve estar aprovada até o final do mês. Vamos aguardar a sanção pelo presidente da República. A reforma previdenciária, logo logo vamos saber o seu destino. É mais difícil porque é uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição). E a reforma política é até setembro. Se não for feita até lá não valerá para a próxima eleição.”

Doria pensa igual: “Somos um país que tem 14 milhões de desempregados. Não pode ter uma disputa apenas partidária, ainda que com toda a legitimidade. Tem que ser o pensamento do Brasil. É isso que defendo. Não é um aval interminável. Há que se fazer uma revisão diariamente [da situação política]”, afirmou.

O prefeito de São Paulo disse que a entrevista de Joesley não o fez mudar de posição. À revista “Época”, o sócio da JBS afirmou que o peemedebista lidera a “maior organização criminosa do país”. “Uma coisa é uma entrevista. Outra é o juízo. Temos que dar direito de ampla defesa. A palavra que importa é a do Judiciário”, disse. Ao ser indagado se duvida do empresário, Doria disse: “O Joesley? Olha, quem fez o que fez, e como fez, é para se duvidar”.

Sobre a situação de Aécio, Doria disse que o julgamento desta terça (20) na Primeira Turma do STF sobre o pedido de prisão do senador mineiro “é um momento delicado para o seu partido”. Alckmin disse que a sigla deve aguardar com serenidade a decisão da Justiça, com confiança e toda a oportunidade para que ele possa se defender. Questionado se Aécio teria condições de permanecer à frente do partido caso seja preso, Alckmin ressaltou que o senador já está afastado da presidência da legenda, atualmente sob o comando interino do também senador Tasso Jereissati.

Há uma semana, Doria e Alckmin discursaram na reunião da Executiva Nacional a favor da permanência do PSDB no governo, ajudando a abafar os focos de insatisfação dentro do partido.

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