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| Foto: MAURO PIMENTEL/AFP

Num dia, um convite para festa que diz “O Brasil voltou, 20 anos em 2”. No outro, um vídeo sobre séries de tevê, gravado com uma entrevistadora de fala infantilizada, numa embaraçosa tentativa de aproximação com o público jovem. Agora, uma propaganda que mostra um homem se salvando do afogamento para dizer que “no fundo, você sabe que melhorou”.

Ainda é maio e, salvo engano, o governo Michel Temer só termina em dezembro. Mas já está em fim de feira. Não produz qualquer coisa que não seja piada, meme, constrangimento.

Goleado nas pesquisas de aprovação popular, o presidente poderia ficar na dele, fechado na defesa para não piorar as coisas. Mas não. Diz que pensa em reeleição e se lança ao ataque, aos trancos, em busca do gol de honra, um aplauso qualquer, um ponto porcentual nas pesquisas. Às vezes por conta própria, mas quase sempre dando ouvidos ao marqueteiro Elsinho Mouco ou ao braço-direito Moreira Franco.

Aí anuncia intervenção no Rio de Janeiro, enfileirando frases de efeito para tentar impressionar uma população que clama por segurança. Depois, como quem bate na mesa para pôr ordem na casa, cria um Ministério da Segurança Pública inócuo desde o início. Tenta mostrar intimidade com o povo usando o futebol como metáfora e mistura os nomes de Corinthians e Palmeiras. Vai ao prédio que desabou em São Paulo, supostamente para confortar os desabrigados, e se surpreende com a recepção hostil. Vai às redes sociais dizer que gosta de “La Casa de Papel” mas vê os “fãs” sugerirem que “The Walking Dead” – uma série sobre zumbis – combina mais com o governo.

Dia desses, subitamente, Temer deu a entender que sabe, sim, de sua impopularidade. E que desde o início buscou aproveitá-la para fazer tudo o que o Brasil precisava. Mas aí veio o arremate estarrecedor: “E eu fiz”. Provavelmente é essa percepção da realidade que leva Mouco e Temer a considerar um trecho daquela conversa com Joesley Batista – “tem que manter isso, viu” – como possível slogan na busca pela reeleição.

O governo teve conquistas relevantes na área econômica, a única em que Temer chegou perto de montar o prometido “ministério de notáveis”. A inflação caiu, os juros bateram no piso histórico, a recessão acabou (muito embora tenha dado lugar a uma recuperação um tanto débil), a Petrobras saiu do buraco. Nada disso, no entanto, autoriza o presidente a supor que fez o necessário.

Ligado a escândalos de corrupção, ele gastou o apoio que tinha para se livrar da Justiça. O Congresso o ajudou, mas cobrou a conta. Nisso, Temer enterrou a reforma da Previdência, sem a qual o teto de gastos – aprovado em seu governo – logo vai virar letra morta. E assistiu, sem reação, à queda de inúmeras medidas de contenção de gasto, o que tirará dezenas de bilhões dos cofres públicos nos próximos anos.

No ano passado, apenas 33% das medidas provisórias do governo foram aprovadas, o menor índice em pelo menos uma década, segundo o economista Manoel Pires, do Ibre/FGV. Uma das MPs “caducas” era a que corrigia problemas da reforma trabalhista. Em dois anos, 15 vetos de Temer foram derrubados, um recorde desde a redemocratização (Sarney teve 14 vetos derrubados, Dilma, 7, Collor, 3, Lula e FHC, 2 e Itamar Franco, um, segundo levantamento do “Valor Econômico”).

A esta altura, os parlamentares nem estão mais cobrando a fatura de seu apoio contra as denúncias da Procuradoria-Geral da República. Sabendo que o governo acabou, eles tratam é de dividir a xepa.

E nisso, os fiascos se acumulam. É o caso do veto derrubado que culminou no perdão de R$ 17 bilhões em dívidas de produtores rurais. Como Temer não se mexeu, restou ao ministro da Fazenda dizer o óbvio: não existe previsão no Orçamento para essa renegociação, o que significa que o Tesouro só bancará todo esse subsídio depois que o Congresso informar de onde virá o dinheiro. Quer dizer: o governo está levando um calote bilionário, mas, por pura incompetência, agora parece que é ele o caloteiro.

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