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Oficialmente, Lula segue pré-candidato. Condenação pelo TRF-4, entretanto, foi sério revés para os planos do ex-presidente . | Ricardo Stuckert/Divulgação
Oficialmente, Lula segue pré-candidato. Condenação pelo TRF-4, entretanto, foi sério revés para os planos do ex-presidente .| Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não irá disputar a eleição presidencial em 2018 a menos que consiga reverter em tribunais superiores sua inegibilidade decorrente da condenação pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), a segunda instância da Lava Jato. A possibilidade de uma eleição sem o petista levanta uma grande dúvida: quem irá herdar os 53 milhões de votos que hoje seriam de Lula?

A dinâmica da política impede uma resposta definitiva para a questão. Contudo, a última pesquisa eleitoral do Instituto Datafolha, divulgada em dezembro do ano passado e que confere 36% das intenções de voto ao petista, e a análise de especialistas dão algumas pistas do que pode ocorrer.

Se Lula desistir da candidatura, num primeiro momento a tendência é de que sejam beneficiados os candidatos de outros partidos de esquerda, mais conhecidos que o possível substituto de Lula no PT. Mas, durante a campanha eleitoral, a partir do momento em que o ex-presidente começar a pedir votos para o petista que irá substituí-lo, esse candidato tende a subir.

Marina e Ciro tendem a se beneficiar. Ao menos no início

O Datafolha de dezembro indicou que há dois candidatos que mais ganham se Lula deixar a disputa: a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT). Ambos são de partidos mais à esquerda. E Marina, além disso, já foi filiada ao PT e fez parte do governo Lula como ministra do Meio Ambiente.

Nos cenários em que o Lula foi colocado como candidato, o melhor desempenho de Marina foi de 11% das intenções de voto. Sem Lula, ela saltou para até 17% – um acréscimo de 6 pontos porcentuais. É o mesmo crescimento do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT): seu melhor desempenho com Lula é de 7%; sem o ex-presidente, de 13%. Nas simulações sem Lula, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, colocado pelo Datafolha como o nome do PT, só chegou aos 3%.

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Fora da eleição, Lula tem potencial de ser um grande cabo eleitoral

Pesquisas, contudo, são cenários do momento. E, até agora, o PT não trabalha publicamente com outro nome que não seja o de Lula. Assim, a tendência é de que o desempenho desse outro nome do PT não seja tão bom. Mas isso pode mudar.

“Qualquer afirmação é mera especulação, mas a minha hipótese é de que quem sair pelo PT tem chances de herdar os votos do ex-presidente porque defenderá uma agenda de oposição ao governo Temer e ao PMDB. Esse posicionamento tem espaço entre o eleitorado”, afirma o cientista político Adriano Oliveira, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O Datafolha de dezembro mostra que Lula tem grande potencial para transferir votos: 29% dos eleitores dizem que o apoio do ex-presidente a um candidato os levaria a votar com certeza nesse candidato; outros 21% disseram que talvez escolhessem esse nome. São porcentuais suficientes para levar um candidato ao segundo turno.

Mas, quando os eleitores foram questionados se votariam em outros nomes do PT, especificando quem seriam eles (Fernando Haddad ou o ex-governador da Bahia Jaques Wagner) a disposição do eleitorado diminuiu. O apoio de Lula a Wagner faria com que 13% optassem pelo ex-governador com certeza, e 19% talvez votassem nele. Já o apoio a Haddad faria com que 14% votassem com certeza no ex-prefeito e 21% talvez escolhessem o ex-prefeito paulistano.

Haddad ou Jaques Wagner: quem seria o verdadeiro plano B do PT?

Mas quem deve ser o substituto de Lula, enfim? “Inicialmente, o principal nome parecia ser o Fernando Haddad, mas ele acabou sofrendo um revés e está estremecido judicialmente”, diz Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos. Manhanelli se refere ao indiciamento de Haddad pela Polícia Federal, em meados de janeiro, pela suspeita de caixa dois durante a campanha eleitoral de 2012.

Apesar do ressurgimento do nome de Haddad no partido, Manhanelli aposta no ex-governador da Bahia, Jaques Wagner. “Nessa altura do campeonato, ele é um dos melhores nomes que o PT tem”, afirma.

Na opinião do cientista político Adriano Oliveira, a questão que paira sobre a candidatura petista diz respeito ao momento em que o nome alternativo será anunciado. “O que é importante saber é até que ponto o PT vai insistir em Lula: até agosto ou setembro, já no início do período para a realização da propaganda eleitoral, ou mais cedo. O ex-presidente pode dizer, antecipadamente, que não será candidato mas que apoiará um outro nome do partido”, explica.

O impacto da decisão do TRF-4

Talvez tão importante quanto saber quem substituirá Lula nas eleições de 2018 seja descobrir o que acontecerá com o capital político do ex-presidente após a condenação em segunda instância, pelo TRF-4. “Lula pode, inclusive, ter um ganho nas pesquisas por conta do discurso de vitimização”, especula Adriano Oliveira.

Já para Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas, especializado em sondagens de opinião, a tendência é que os resultados, em um primeiro momento, não sejam tão diferentes dos que já foram divulgados. Em pesquisas publicadas no ano passado, o petista liderava as intenções de voto, seguido pelo também pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ). “Os primeiros resultados [das novas pesquisas eleitorais] devem manter certa estabilidade. A tendência é que ele caia mais adiante, quando as pessoas começarem a perceber que o Lula não será candidato até o fim”, diz Hidalgo.

Metodologia da pesquisa

A pesquisa do Datafolha citada nesta reportagem ouviu 2.765 brasileiros de 16 anos ou mais, em entrevistas presenciais, realizadas em 192 municípios do Brasil. O levantamento foi realizado nos dias 29 e 30 de novembro de 2017, e a sua divulgação ocorreu em dezembro do ano passado, pelo jornal Folha de S.Paulo. A margem de erro da pesquisa 2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95% – o que significa que se fossem realizadas 100 pesquisas usando essa mesma metodologia, em 95 delas os resultados estariam dentro da margem de erro.

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