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 | Marcelo Camargo    /    Agência Brasil
| Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Aos 45 minutos do segundo tempo, no derradeiro momento de deixar a Procuradoria-Geral da República, Rodrigo Janot escorregou. Era o que todo enrolado na Lava Jato, ou amigo de enrolado, queria. Não só Michel Temer e sua turma, também enrolada. No fundo, todos comemoram. Cada partido, seus chefes e bancadas. Mas não expressam. Não a maioria deles.

Afinal, quem não está com Janot engasgado? Atingi-lo é atingir também seus subordinados de Curitiba. O "instituto da delação", que abominam, enfim foi para o banco dos réus. As revelações feitas ontem por Janot - a principal foi a admissão de falha na condução da delação dos JBS - deram o gosto, na palavra de um governista, de "fim de festa". 

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O cartel de Janot: denunciou Michel Temer, ao menos uma vez; pediu a prisão de Aécio Neves, duas vezes; já pediu prisão também de Renan Calheiros, Romero Jucá, Eduardo Cunha e até de José Sarney; denunciou ainda Eunicio Oliveira, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e outros caciques do PMDB, "ene" vezes; já teria chamado Lula de "ladrão" e o denunciou, como fez com Dilma Rousseff; a famosa "lista de Janot", de 2015, trouxe mais de 50 nomes de parlamentares suspeitos de tramoia. O PP lidera esse "ranking". Também na lista, ex-presidente Fernando Collor faz troça com o nome de procurador, a quem o trata em discursos por "Janó". E muito mais. 

É comum ouvir todos esses chamarem as delações de confissões a fórceps e feitas quase sob tortura. Joesley Batista foi a quase a desgraça de Temer, mas pode ser, quem diria, sua salvação. E a dos outros, em menor grau. O presidente posou ontem no exterior com cara de vitorioso. E atrás dele, todos sorridentes, seus mais fiéis defensores no Congresso, que, de brinde, estão na comitiva presidencial: os deputados Darcisio Perondi (PMDB-RS), Mauro Pereira (PMDB-RS), Carlos Marun (PMDB-MS), Fausto Pinato (PP-SP), Mauro Lopes (PMDB-MG), Beto Mansur (PRB-SP) e o vice da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG). Felizes e sorridentes papagaios de pirata, postados atrás de Temer. 

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A orientação, ao que parece, é não celebrar demais. Os governistas preferem o "off" nesse momento. 

"A flecha do Janot parece bala: ricocheteou e voltou nele", disse um defensor de Temer na Câmara, que pediu anonimato. 

Lelo Coimbra (PMDB-ES), líder da Maioria na Câmara, comentou a nova fase que vem por aí. Entende ser grave o fato de um membro do próprio Ministério Público, o ex-procurador Marcelo Muller, estar no centro dessa crise. Tudo indica que ele auxiliou os irmãos Batista ainda quando trabalhava com Janot, o que pode anular a primeira denúncia contra Temer. 

"Primeiro, veio aquela delação do Delcidio Amaral, que beneficiou Lula. Agora vem essa história do Joesley. Isso tudo compromete e coloca em dúvida a delação, que é um instrumento importante. Mas está virando proteção a quem não deve e trazendo benefícios que não podem", disse Coimbra, que está até muito otimista. 

"O benefício da dúvida vai se instalar para o presidente agora. E nós vamos reconstruir nossa base e aprovar as reformas que o país necessita". 

Aprovar as reformas? Ao que tudo indica, uma coisa não tem exatamente a ver com a outra.

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