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 | Aniele Nascimento    /    Gazeta do Povo
| Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo

Com a proximidade da privatização da Lotex (a chamada “raspadinha”, a loteria instantânea), a Caixa Econômica Federal criou uma nova modalidade de apostas com menor valor e muitas premiações, aproveitando a superstição do brasileiro de jogar em datas do coração. O sucesso do primeiro concurso da loteria Dia da Sorte foi grande, com arrecadação de quase R$ 7 milhões. 

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Os prêmios da Dia da Sorte são menores e as apostas mais baratas (R$ 2, contra R$ 3,50 nos jogos da Mega Sena, por exemplo). Em sua primeira semana, a Dia de Sorte arrecadou mais do que a tradicional Quina. Na semana passada, a Quina arrecadou R$ 6,3 milhões, enquanto a Dia de Sorte recolheu em apostas R$ 6,9 milhões. 

O sucesso da nova loteria em seu primeiro concurso também fica evidente na relação entre a arrecadação e o prêmio. A Quina, que tem arrecadação próxima ao jogo Dia da Sorte, paga R$ 2 milhões em prêmios (31% da arrecadação), enquanto a nova loteria paga cerca de R$ 500 mil em prêmios, uma relação de 7,1% perante sua arrecadação. 

O formato da nova loteria também foi estrategicamente definido pela Caixa para se assemelhar com o estilo de apostas informais que os brasileiros costumam fazer. No Dia de Sorte, o jogador escolhe sete números entre os 31 disponíveis, e um mês do ano. Esse tipo de aposta tem um apelo sentimental, levando o apostador a escolher datas importantes para ele, comemorativas. 

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Segundo a Caixa, a nova modalidade de jogo é a loteria com maior facilidade de ganhar, em prêmios intermediários, o que ajuda a conquistar o apostador. Quem acertar quatro e cinco números sorteados, entre os sete jogados receberá prêmio fixo de R$ 4 e R$ 20. Acertando seis números o jogador recebe 30% do rateio e os sete números, 70%. Também será premiado quem acertar o mês sorteado, com R$ 2. 

O superintendente de Loterias da Caixa, Gilson Braga, afirmou ao lançar a nova loteria que o objetivo era “mexer no imaginário” do brasileiro, ao optar por lançar um produto com datas. "Detectamos que dentro das nossas loterias precisávamos fazer uma renovação. Pretendemos sempre trazer novidades para o nosso apostador", completou. 

O brasileiro gosta de jogos e o governo federal tem interesse em abrir parcialmente o setor para a inciativa privada. Está em curso a tentativa de privatização da Lotex, processo iniciado em setembro de 2017. Mas o processo vem sofrendo dificuldades, com resistências da Caixa Econômica Federal de sair da parceria. Essas dificuldades políticas e outras, sobre prazo e formato da concessão, obrigaram o governo a cortar à metade o bônus que esperava receber com a concessão, passando de R$ 1 bilhão para R$ 542 milhões, e reduzindo o prazo que a empresa privada terá para explorar o negócio, de 25 para 15 anos. Segundo o Programa Avançar Parcerias, do governo federal, a expectativa é fazer o leilão até julho. 

As loterias são de fato um negócio milionário. Em 2016, dados mais recentes disponibilizados pela Caixa, foram feitas mais de 225 milhões de apostas. O valor total obtido com a venda dos jogos foi de R$ 12,8 bilhões. Desse total, R$ 6,1 bilhões foram repassados para áreas sociais, de cultura e do esporte. 

Além da venda da Lotex, há iniciativas no Congresso para que se abra o mercado de jogos. Mas o tema é polêmico, com resistências de grupos religiosos, da Caixa que perderia seu monopólio e até mesmo entre os apoiadores da abertura. Enquanto alguns parlamentares defendem a abertura apenas do mercado de apostas online, outros preferem a abertura do mercado de cassinos, para que grandes grupos econômicos venham ao país e construam hotéis e instalações para os jogos. 

O processo de venda da Lotex é uma evidência da dificuldade do governo sobre o tema. No caso das loterias, o peso político tem atrapalhado o governo: há resistência dentro da Caixa Econômica Federal, que opera esse serviço, em ficar de fora do negócio. 

A competição com os jogos ilegais, como o jogo do bicho, e com as apostas em sites internacionais também prejudicou o negócio. Os jogos ilegais têm um mercado grande no Brasil e tiram potenciais apostadores das opções legalizadas. “Sem um comprometimento sério em desbaratar essa oferta paralela, o alto investimento que é a compra da Lotex pode ser colocado em sério risco”, afirmou um representante da indústria, em condição de anonimato.

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