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| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci disse nesta quinta-feira (20) ao juiz Sérgio Moro que está disposto a colaborar com informações à Lava Jato. Ao final da audiência, em Curitiba, Palocci prometeu apresentar “fatos, nomes, endereços e operações realizadas que certamente vão ser do interesse da Lava Jato”. O petista surpreendeu ao adotar um tom simpático ao andamento da operação.

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“Todos os nomes que eu optei por não falar, por sensibilidade da informação, estão à sua disposição”, declarou. “A Lava Jato realiza uma investigação de importância, e acredito que posso dar um caminho que vai lhe dar mais um ano de trabalho, mas é um trabalho que vai fazer bem ao Brasil.”

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Palocci, preso preventivamente desde setembro passado pela operação, depôs em processo em que é réu, acusado de receber dinheiro via caixa dois da Odebrecht para pagamento ao casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura, que prestou serviços a campanha do Partido dos Trabalhadores.

As afirmações foram feitas ao final do depoimento de duas horas -- o primeiro do ex-ministro ao juiz de Curitiba --, num momento em que ele fazia uma “contextualização”, nas palavras dele, das acusações que enfrenta na Justiça. Há boatos de que Palocci estaria negociando um acordo de delação premiada na Lava Jato –algo que seus advogados, até agora, negam. As afirmações a Moro podem indicar a disposição do ex-ministro em colaborar com a Justiça.

Depoimento

No longo depoimento, Palocci negou ter “pedido ou operado” pagamentos em caixa dois com a Odebrecht. Vários dos 78 delatores da empresa – inclusive o herdeiro e ex-presidente Marcelo Odebrecht– disseram que o ex-ministro era “interlocutor” de assuntos do PT no governo federal.

Mas Palocci admitiu ter conhecimento da existência de caixa dois em campanhas. “Marcelo Odebrecht disse aqui [em depoimento a Moro] que eu nunca pedi caixa dois. Pedi pagamentos. Ouvi falar mesmo de caixa dois, isso não vou negar. Em todo lado, em toda campanha”, falou o petista. “Não deixei de cometer erros. Não me sinto em condições de falar que nada existiu”, falou, se referindo à contabilidade paralela em campanhas eleitorais.

Palocci negou ter atuado como operador de pagamentos da Odebrecht a campanhas eleitorais do PT em 2002, 2006 e 2010, como afirmam diversos delatores da empresa.

“Em 2006, nem participei da campanha [presidencial], pois era candidato [a deputado federal]. O que aconteceu foi que tesoureiros do partido ou da campanha pediam para que eu falasse com empresário que estava contribuindo, que eles estavam com necessidades e que seria importante que eu pudesse reforçar com um ou outro empresário a necessidade de uma participação maior. Devo ter feito isso em 2006 com duas ou três empresas. Mas nunca tive acompanhamento da questão financeira”, falou.

“Em 2010, voltei a participar intensamente da campanha, na coordenação. [Mas] Não era tesoureiro e não fazia parte da arrecadação, não acompanhava esse tema. De novo, pediam para que reforçasse com um empresário ou outro uma solicitação de apoio mais ampla, por causa de emergências, dificuldades de campanha. Cheguei a fazer pouquísimas vezes”, afirmou Palocci.

Em certo momento, já ao final do depoimento, elogiou Moro: “O senhor tem dado contribuição ao país na medida em que acelera processos. Isso é digno de nota”. Segundos depois, disparou. “[Mas] A peça [de acusação do Ministério Público Federal] lhe induz a erro”. Em seguida, manifestou a intenção de apresentar “fatos” que podem colaborar com a Lava Jato.

Odebrecht

Palocci também afirmou que nunca pediu nem recebeu doações partidárias da Odebrecht como contrapartida por projetos que a empresa tinha com o governo federal. O ex-ministro também negou que tenha feito pagamentos aos marqueteiros João Santana e Mônica Moura no exterior.

O ex-ministro admitiu, porém, que havia episódios em que as empresas procuravam políticos prometendo doações caso seus interesses fossem atendidos. Ele cita como exemplo a votação da medida provisória 460, de 2009, que previa mudanças na cobrança de tributos para incorporadoras.

“Não preciso dizer o quanto se falava no Congresso sobre contrapartidas para a MP 460. Era uma coisa... Aconteceu intensamente, mas jamais recebi ou ofereci da Odebrecht qualquer contrapartida”, afirmou Palocci.

Ao longo do depoimento, Palocci se lembrou de uma visita que recebeu do então presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, a quem descreveu como “insistente” ao defender seus interesses econômicos. Segundo a versão do ex-ministro, Marcelo teria dito que foi procurado por um petista, que pedira uma doação como contrapartida pela liberação de um projeto de submarino que era de interesse da Odebrecht.

“Ele (Marcelo) me pediu para ajudar a tirar esse assunto da mesa. Faço isso porque sou absolutamente contra qualquer vinculação a projeto”, disse Palocci. “Eles jamais me pediram uma contrapartida e jamais dei margem que eles pensassem que era possível.”

Moro quis saber que petista havia feito o pedido a Marcelo. Palocci respondeu que não saberia indicar um nome, mas que, na época, a única pessoa que solicitava doações em nome do partido era o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

Palocci disse ainda que nunca atuou em favor da empresa para que fosse facilitada a liberação de créditos no BNDES. “Jamais fui ao BNDES buscar linha de crédito para qualquer empresa, não digo só a Odebrecht.”

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