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| Foto: JONATHAN CAMPOS/Gazeta do Povo

O chamado para uma nova greve geral no Brasil deve ser pouco para que o movimento sindical faça alguma diferença neste momento do debate político. Sua pauta já nasceu esvaziada e as centrais sindicais não conseguiram sair da fronteira de suas categorias mais engajadas. Não se espere adesão popular ou uma nova disposição do meio político em conversar com os sindicalistas nesta sexta-feira (30).

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A pauta das centrais foi esvaziada por uma combinação de velocidade na votação da reforma trabalhista, de um lado, e paralisação na tramitação da reforma da Previdência de outro. Por mais que os sindicatos argumentem que a reforma trabalhista tira direitos, é difícil convencer com esse discurso em um país onde quase metade dos trabalhadores são informais e outros 14 milhões estão na fila do desemprego. As mudanças da Previdência, por sua vez, são mais complexas e sensíveis aos olhos de quem faz as contas para a aposentadoria. Mas ela travou com a crise política.

A reforma trabalhista, vista no detalhe, não tira direitos. Moderniza a legislação com mudanças que podem até agradar os sindicatos – são eles que participarão da maioria das negociações que poderão fazer as adaptações da lei à realidade dos trabalhadores, como propõe a reforma. É fácil também ver vantagem em outras mudanças, como a criação do distrato do contrato de trabalho (o “acerto” formalizado) e as novas regras para a concessão de férias (mais previsíveis e flexíveis). É também uma reforma que agrada milhões de pequenos empresários, que terão custos menores na Justiça do Trabalho.

A crise política não paralisou a reforma trabalhista, que deve ser aprovada na próxima semana no Senado. A greve não vai mexer nessa agenda e o assunto está praticamente encerrado – ajustes agora só na sanção presidencial. O mesmo não acontece com a da Previdência. Sua tramitação parou e há muito conflito ainda a ser resolvido. O funcionalismo público continua pressionando por mudanças e o que já se retirou do texto original deixou a reforma mais desigual. Há ainda muita oposição à regra de transição e a campanha que espalha mitos sobre a Previdência tem sido eficiente em desconstruir o fato de que a necessidade de mudanças é urgente.

Há também um esvaziamento na pauta política. Por mais que as centrais empunhem o Fora Temer, elas têm de conviver com suas próprias contradições políticas. A Força Sindical, por exemplo, foi apoiadora de primeiro momento do impeachment de Dilma Rousseff e do movimento que elevou Michel Temer à Presidência. Outras centrais, como a CUT, pedem a saída de Temer ao mesmo tempo em que defendem o legado do PT e a inocência sem limites de Lula.

A baixa chance de adesão popular é o elemento que completa o esvaziamento da greve semi-geral. As bases sindicais foram diminuídas pela transição para uma economia de serviços e pela própria recessão, que cortou empregos formais. Ao mesmo tempo, o discurso sindical parou de fazer sentido para muita gente que percebe sua linguagem partidária – e, como se sabe, os partidos políticos, os políticos e tudo o que lembra a política estão em baixa no Brasil. Sem apoio popular, a greve não fará diferença no debate público neste momento.

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