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Por que tanta tara pela palavra “fuzilar”, Bolsonaro?
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Era para ser uma sexta-feira tranquila entre mim e os “bolsominions”, aqueles seguidores mais, digamos, aguerridos do “mito”. Eu publiquei aqui um texto apresentando um bom motivo para se torcer pela vitória de Bolsonaro em 2018. Em seguida, publiquei outro texto mostrando os seguidores de Bolsonaro sendo tolerantes com uma militante LGBT, o que jamais aconteceria no caso contrário. Por fim, ainda puxei a orelha de João Doria, que quer privatizar “gradualmente” a Petrobras e unir Caixa e BB, em vez de privatiza-los também.

Ou seja: tudo prometia uma lua de mel momentânea entre nós, uma paz temporária, com um fim de semana mais calmo, sem ataques furiosos daquela ala barulhenta que não pode ver o capitão ser criticado numa só vírgula ou sequer questionado. Mas o homem não deixa. O próprio Bolsonaro parece não conseguir manter a boca fechada, sem tanto arroubo de macheza autoritária. Parece uma espécie de Ciro Gomes da direita, cuja verborragia já lhe custou muito politicamente.

Bolsonaro simplesmente disse que “tem que fuzilar” os autores do Queermuseu, do Santander Cultural. Não, não é invenção da imprensa “Fake News”. Eu vi o vídeo. Ele diz isso mesmo. É verdade que diz, logo depois, que estava usando uma “força de expressão”. Menos mal. Não cheguei a pensar que Bolsonaro colocaria os responsáveis num paredão como o cubano e apertaria o gatilho. Mas cabe perguntar: por que essa tara toda pela palavra “fuzilar”?

FHC deveria ter sido “fuzilado” pelo “crime de lesa-pátria” ao privatizar a Vale, segundo o velho Bolsonaro. O novo, mais palatável para liberais nesse aspecto (pero no mucho), quer “fuzilar” curadores socialistas de mostra “cultural” com pedofilia e zoofilia para crianças. Posso entender a revolta – foi a de milhões de brasileiros, e a minha mesmo. Posso entender o desejo de justiça, já que a lei configura crime esse tipo de coisa, e a “arte” não é uma escusa. Posso até mesmo entender que o candidato quer se destacar em meio a tanta revolta, provando ser o mais revoltado.

Mas não posso aplaudir ou me calar diante de alguém que pretende ser o presidente da República e usa com tanta flexibilidade e abundância a ideia de fuzilamento. Ainda que “no sentido figurado”. Palavras importam. E esse tipo de mensagem em nada ajuda na busca pelo império das leis, ou mesmo no resgate de valores morais contra essa esquerda pervertida. Ao contrário: é munição para essa turma. É combustível, lenha na fogueira, pretexto para que banquem a vítima de intolerância. É o outro lado da mesma moeda, a esquerda raivosa de sinal trocado:

Se ficamos revoltados quando um esquerdista, como o editor do Zero Hora, diz que gostaria de ser um comunista para “passar bala” na garotada do MBL, ou com um professor, como Mauro Iasi, que citou Brecht para dizer que gostaria de fuzilar conservadores, temos que ser coerentes e repudiar essa fala de Bolsonaro. Ainda que ele alegue “força de expressão”.

O apresentador colocou pilha, o deputado caiu direitinho. Demonstra muita empolgação e pouco controle. Se continuar assim, vai agradar a turma que já o idolatra. Mas essa turma não é capaz de colocá-lo na presidência. No máximo, pode garantir muitos likes nas redes sociais. Parafraseando o rei Juan Carlos em fala inesquecível para Hugo Chávez, por qué no te callas?

Rodrigo Constantino

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