
O incidente que levou o estudante Guilherme Koerich, de 18 anos, a ter uma perna amputada neste mês em Curitiba não foi esclarecido. Ainda não há como saber se a causa do trauma foi mera fatalidade ou se houve agressão física do segurança do bar envolvido. Contudo, o fato levantou uma suspeita: em acidente com fraturas, é possível alguém cair sozinho da sua altura e quebrar a perna de tal forma que seja necessária uma amputação?
Segundo especialistas em ortopedia e trauma, em tese é possível que uma simples queda ou um pequeno acidente cause problemas mais graves, como uma amputação. Essa consequência, porém, não é corriqueira, sendo quase rara. Independentemente do local do acidente, a gravidade do dano depende da chamada energia do trauma (leia nesta página).
Para que um osso quebrado se torne um problema mais grave, a ruptura tem de atingir mais do que o próprio osso. "Geralmente, fraturas graves acometem também os nervos e vasos próximos ao osso, machucando os tecidos moles", explica o ortopedista e professor de Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo (USP) Fernando Baldy dos Reis.
Os músculos são envoltos por uma fáscia muscular, espécie de tecido fibroso, que não tem poder de elasticidade. "Quando ocorre a fratura do osso há um edema grande e, como a fáscia não se expande, pode dificultar a vascularização do local, causando lesões irreversíveis", ilustra Marcelo Abagge, chefe do Serviço de Ortopedia do Hospital do Trabalhador, em Curitiba, e presidente da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico.
Quando a fratura rompe uma artéria, interfere na circulação do membro, comprometendo até mesmo a sua viabilidade. "Por causa disso, o tratamento precoce é importante. Quanto mais tempo demora, pior fica, porque a [falta de] circulação danifica os tecidos", diz Kodi Edson Kojima, coordenador do grupo de trauma do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
A agilidade no tratamento também pode evitar outros problemas, como a embolia pulmonar e a trombose, que é uma evolução mais tardia da fratura, causada pelo inchaço do membro. Se isso acontecer, a velocidade da circulação diminui e o sangue coagula, causando um trombo, que pode se desprender da veia e chegar até os pulmões. Uma vez lá, pode levar a uma tromboembolia pulmonar. Essa é uma consequência indireta do problema, sendo um quadro respiratório e não local. Outro tipo de embolia é a gordurosa, que acontece diretamente por causa das fraturas. Uma parte da medula óssea se mistura com o sangue, podendo chegar até o estômago e o pulmão.
O Hospital do Trabalhador é referência no estado para tratamento de traumas e por ano são feitas cerca de seis mil cirurgias ortopédicas no local. Entretanto, segundo Abagge, as fraturas mais comuns são as que não necessitam de internamento, como as de dedo e de antebraços.
Já os acidentes de moto são os grandes causadores das mais graves, especialmente das expostas nos ossos das pernas. Outro tipo de fratura que tem aparecido bastante são as do colo de fêmur e do fêmur proximal, especialmente em idosos, pela falta de casas equipadas para a segurança da terceira idade.
Serviço
Siate: Em caso de acidente com fraturas, ligue 193 e não mexa no ferido. Espere pelo atendimento do Siate.



