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Bruno José dos Santos fez um cercado de almofadas para proteger a filha, mas foi ele quem acabou se machucando  e tendo que operar a perna | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Bruno José dos Santos fez um cercado de almofadas para proteger a filha, mas foi ele quem acabou se machucando e tendo que operar a perna| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Em casa

Não foi só uma escorregada nas almofadas

O administrador de empresas Bruno José Santos, de 29 anos, sabe como um acidente pequeno em casa pode ter consequências graves. Um dia, cuidando de sua filha que na época tinha apenas seis meses, Bruno decidiu fazer um cercado de almofadas para a menina não escapar do tapete enquanto engatinhava. De meias, ele precisou atender à campainha e pulou por cima das almofadas. "Fiquei com um pé no tapete e outro no chão. O pé do chão escapou e girei em cima do tornozelo", conta.

Bruno teve a fíbula quebrada e o ligamento do tornozelo rompido e, em duas cirurgias, recebeu uma placa e oito pinos. A fratura, segundo o médico que o atendeu, é característica de pessoas que prendem o pé no chão ao jogar futebol ou que sofrem acidentes de moto, não de quem passa por acidentes domésticos.

Bruno está na 12ª semana após o acidente e nas últimas fases da recuperação, mas ainda anda de muletas, que só devem ser deixadas de lado depois de uma terceira cirurgia, para a retirada de dois dos pinos. O administrador de empresas também entrou na natação para auxiliar na recuperação, mas sente falta de jogar futebol com os amigos. Do acidente, ficou um aprendizado: "Digo para os meus filhos não andarem de meia pela casa", conta rindo.

O que fazer?

Levar a um hospital com rapidez ou esperar por uma ambulância? Saiba como agir quando alguém sofre uma fratura em casa ou na rua.

• Imobilização: o membro fraturado deve ser imobilizado, se a fratura for simples, com a ajuda de tábua, prancha ou faixa. Em casos graves, o paciente só deve ser movido se estiver em local perigoso.

• Transporte adequado: caso a fratura seja grave, não tente levar a pessoa até um hospital. Chame o resgate ou ambulância para que o transporte até o local de atendimento seja adequado. Caso o paciente não seja levado de maneira segura, existe a possibilidade de causar uma lesão ainda pior.

• Atendimento especializado: fraturas mais leves não justificam a ida a um pronto-socorro e podem esperar por consultas com ortopedistas. Quando as fraturas são de grande energia, o atendimento deve ser especializado e rápido para não haver problemas mais graves decorrentes do acidente.

Energia do trauma

É a força com que é causado o trauma e pode ser classificada em alta ou baixa. As fraturas de alta energia são aquelas causadas por acidentes mais graves, como queda de altura, acidentes de trânsito e ferimentos por arma de fogo. As de baixa energia são fraturas causadas por queda direta – da altura da própria pessoa–, como tropeços e traumas indiretos, como flexões forçadas.

O incidente que levou o estudante Guilherme Koerich, de 18 anos, a ter uma perna amputada neste mês em Curitiba não foi esclarecido. Ainda não há como saber se a causa do trauma foi mera fatalidade ou se houve agressão física do segurança do bar envolvido. Contudo, o fato levantou uma suspeita: em acidente com fraturas, é possível alguém cair sozinho da sua altura e quebrar a perna de tal forma que seja necessária uma amputação?

Segundo especialistas em ortopedia e trauma, em tese é possível que uma simples queda ou um pequeno acidente cause problemas mais graves, como uma amputação. Essa consequência, porém, não é corriqueira, sendo quase rara. Independentemente do local do acidente, a gravidade do dano depende da chamada energia do trauma (leia nesta página).

Para que um osso quebrado se torne um problema mais grave, a ruptura tem de atingir mais do que o próprio osso. "Geralmente, fraturas graves acometem também os nervos e vasos próximos ao osso, machucando os tecidos moles", explica o ortopedista e professor de Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo (USP) Fernando Baldy dos Reis.

Os músculos são envoltos por uma fáscia muscular, espécie de tecido fibroso, que não tem poder de elasticidade. "Quando ocorre a fratura do osso há um edema grande e, como a fáscia não se expande, pode dificultar a vascularização do local, causando lesões irreversíveis", ilustra Marcelo Abagge, chefe do Serviço de Ortopedia do Hospital do Trabalhador, em Curitiba, e presidente da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico.

Quando a fratura rompe uma artéria, interfere na circulação do membro, comprometendo até mesmo a sua viabilidade. "Por causa disso, o tratamento precoce é importante. Quanto mais tempo demora, pior fica, porque a [falta de] circulação danifica os tecidos", diz Kodi Edson Kojima, coordenador do grupo de trauma do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

A agilidade no tratamento também pode evitar outros problemas, como a embolia pulmonar e a trombose, que é uma evolução mais tardia da fratura, causada pelo inchaço do membro. Se isso acontecer, a velocidade da circulação diminui e o sangue coagula, causando um trombo, que pode se desprender da veia e chegar até os pulmões. Uma vez lá, pode levar a uma tromboembolia pulmonar. Essa é uma consequência indireta do problema, sendo um quadro respiratório e não local. Outro tipo de embolia é a gordurosa, que acontece diretamente por causa das fraturas. Uma parte da medula óssea se mistura com o sangue, podendo chegar até o estômago e o pulmão.

O Hospital do Trabalhador é referência no estado para tratamento de traumas e por ano são feitas cerca de seis mil cirurgias ortopédicas no local. Entretanto, segundo Abagge, as fraturas mais comuns são as que não necessitam de internamento, como as de dedo e de antebraços.

Já os acidentes de moto são os grandes causadores das mais graves, especialmente das expostas nos ossos das pernas. Outro tipo de fratura que tem aparecido bastante são as do colo de fêmur e do fêmur proximal, especialmente em idosos, pela falta de casas equipadas para a segurança da terceira idade.

Serviço

Siate: Em caso de acidente com fraturas, ligue 193 e não mexa no ferido. Espere pelo atendimento do Siate.

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