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Uma das paixões da culinária brasileira, o ovo frito entra no grupo dos alimentos ricos em colesterol. | Leandro Taques/Arquivo/Gazeta do Povo
Uma das paixões da culinária brasileira, o ovo frito entra no grupo dos alimentos ricos em colesterol.| Foto: Leandro Taques/Arquivo/Gazeta do Povo

Quando o escritor irlandês George Bernard Shaw (1856-1950) afirmou que “a ciência nunca resolve um problema sem criar pelo menos outros 10”, ele poderia perfeitamente estar se referindo ao colesterol. A polêmica que envolve a gordura ao longo das últimas décadas poderia ser a comprovação de sua tese.

Desde o início do século passado — quando os primeiros estudos começaram a apontar que os alimentos ricos em colesterol são os responsáveis pelo aumento de uma série de doenças cardiovasculares —, ovos, carnes e outros representantes da classe têm entrado em uma verdadeira montanha-russa maniqueísta: ora são apontados por pesquisas como vilões e proibidos no cardápio, ora são considerados bonzinhos e liberados para consumo.

O que é

O colesterol é um tipo de gordura que faz parte das nossas células. Existem dois tipos: o LDL — ou colesterol “ruim” – e o HDL — ou colesterol “bom”.

As funções

Apesar de ser pintado como um inimigo da saúde, o colesterol tem diversas funções no organismo: compõe 20% das membranas celulares, ajuda na formação dos ácidos biliares, age na produção de hormônios sexuais. Nos testículos, está envolvido na produção de testosterona. Nos ovários, participa da síntese de progesterona e estrogênio.

Com dados apontando para todos os lados, nem os especialistas parecem chegar a um consenso. No mais recente capítulo dessa novela (mas não necessariamente o último), esses alimentos acabaram de ser absolvidos de toda e qualquer acusação. No início deste ano, o Dietary Guidelines Advisory Committee (Comitê de Recomendação de Guias Dietéticos, em tradução livre) do governo dos Estados Unidos se posicionou contra a limitação do consumo de colesterol para adultos.

“Mocinhos” da dieta têm papel relativizado

Enquanto alguns alimentos ricos em colesterol deixam de ser vilões segundo as pesquisas mais recentes, outros — os “mocinhos” que ajudam a regularizar os níveis de colesterol “bom” no sangue — tiveram também seu papel relativizado. A profissional de Educação Física Patrícia Vieira, presidente da Associação de Hipercolesterolemia Familiar (AHF), explica que, para a formação do colesterol bom, são necessárias as boas gorduras vindas da dieta e, também, as fibras. Entretanto, grande parte dos alimentos que contêm essas propriedades também apresentam outros compostos que não são tão bons assim para a saúde, diz o endocrinologista Fernando Gerchman.

Óleo de oliva, chocolate amargo, nozes e castanhas podem fazer bem, mas quem determina o quanto de benefícios eles trarão para cada pessoa é a genética.

O documento chegou para reforçar o que outras pesquisas vêm apontando há alguns anos: não existe relação direta entre a dieta rica em colesterol e os níveis da substância no sangue. E isso é explicado pelo fato de que uma proporção muito pequena do colesterol presente no sangue vem do prato de comida. É o nosso próprio corpo, a partir do fígado, quem produz sozinho mais de 70% da substância. Aqui, o que conta são fatores como predisposição genética e sedentarismo.

Para amantes de ovos fritos, frango assado e coração de galinha, a notícia é boa. Mas antes de sair comemorando (e enchendo o prato), é preciso lembrar: esses mesmos alimentos são ricos em outras gorduras. E elas, pelo menos até agora, ainda são as grandes inimigas de uma vida saudável.

Verdadeiros inimigos

Se, por um lado, os limites de consumo diário de alimentos ricos em colesterol estão sendo mais contestados, o mesmo não se pode dizer dos limites referentes àqueles ricos em gordura saturada e trans. De acordo com especialistas, a ingestão dessas gorduras produz muito mais colesterol no sangue do que os próprios alimentos que são ricos nesse tipo de gordura. É a isso que as pessoas devem ficar atentas.

O consumo de carne vermelha tem sido associado a um aumento na incidência de diabetes, principalmente quando a carne é do tipo processada. “O balanço adequado do consumo de gorduras é uma das questões mais relevantes para evitar alterações nos níveis de colesterol. As gorduras saturadas são os componentes da dieta que mais elevam os níveis de colesterol, por reduzirem a capacidade de remoção do colesterol da circulação. As gorduras trans fazem o mesmo papel, além de diminuírem o “bom” colesterol, sendo um componente alimentar ainda mais prejudicial à saúde”, destaca a cardiologista Maria Cristina de Oliveira Izar, do Setor de Lipídios, Aterosclerose e Biologia Vascular da Unifesp.

Vale ressaltar que 60% dos alimentos ricos em colesterol também apresentam gordura saturada e trans, como salsichas, bacon e queijos.

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