
Na Universidade Aberta para a Terceira Idade, em Ponta Grossa, (Uati-UEPG) dez senhoras entre 52 e 82 anos vestem-se de colegiais e agem como se estivessem em uma sala de aula onde inúmeros absurdos acontecem. Não, elas não enlouqueceram. Estão em um palco, onde o teatro transformou mulheres comuns em atrizes, tornando-as mais ativas e enchendo suas vidas de benefícios, todos conquistados por meio do exercício das artes cênicas.
O que está acontecendo com as alunas da Universidade Aberta é um exemplo do que a arte pode fazer para melhorar a vida de quem já passou dos 60 anos. Durante a aprendizagem artística muitos saem de um processo depressivo com a ajuda do trabalho com o texto, o autor e os personagens. Os exercícios físicos, vocais e mentais com estímulo da memória e da criatividade eliminam até o uso de alguns remédios. "Muitas tinham vergonha até de falar. Graças ao teatro, as falas e opiniões se projetam na sala de aula e a atitude extrapola na família. Elas têm argumentos e pontos de vista que agora sabem como expor", observa a coordenadora da Uati-UEPG, Rita de Cássia Oliveira. O resultado são mulheres mais satisfeitas pessoalmente, que conquistam voz ativa dentro de casa e junto às colegas. "Lá no palco elas se transformam, saem de dentro delas e dão voz aos personagens", conta.
De acordo com a psicóloga gerontóloga Laura Machado, consultora do prêmio Talentos da Maturidade, do Banco Santander, a arte tem a função de organizar e estruturar o psiquismo do indivíduo, seja qual for a idade o que ocorre especialmente com as crianças. Muitas vezes, o idoso perdeu a prática de estruturar emoções através da expressão artística. "O que ocorre é que as pessoas, quando se aposentam e entram na terceira idade, vêm de inúmeros bloqueios adquiridos ao longo da vida, e se redescobrem através da arte. Desbloqueando suas emoções e colocando isso para fora, você está se reestruturando", explica Laura. "Na terceira idade, a arte volta a ter essa função de elaboração das emoções. Quando o idoso representa ou pinta, está na verdade se reelaborando, colocando para fora uma série de emoções que ficaram represadas", explica. A prática traz a superação de bloqueios emocionais sem que a pessoa perceba isso diretamente.
A explicação teórica de Laura Machado pode ser vista na prática dos grupos teatrais para a terceira idade. "Muitos idosos que entram no teatro têm alguma coisa oculta para resolver. Alguns têm uma vontade lá do passado, que não realizaram porque a família não deixou ou porque casaram. Eles querem fechar um ciclo", aponta o produtor teatral Alfredo Mourão, que mantém um grupo com idosos em Ponta Grossa. É assim que eles superam traumas e antigos bloqueios psicológicos. "Ninguém vai com o problema definido. Eles estão em busca de um espaço e acabam se encontrando, extravasando. Botam para fora uma coisa que nem imaginavam que colocariam", revela.
"Na realidade, o teatro funciona como terapia para todos nós. No palco, é permitido que você viva outras vidas, fale o que queria falar e não tinha coragem", diz Nelson Silva Júnior, professor de teatro e diretor da peça estrelada pelo grupo da Uati-UEPG. Em Bons Tempos, as senhoras vivenciam novamente diversas situações que já presenciaram na vida real. "Estamos construindo um novo modelo de velhice, sem os conceitos de doença e alienação. Com a mente sadia e o físico saudável, elas conquistam autonomia e a alegria floresce normalmente", diz a coordenadora Rita de Cássia.



