
Enquanto em todo o Brasil há aumento na quantidade de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família, a Região Sul registra queda nos últimos cinco anos. Os três estados tinham quase 1,1 milhão de dependentes em 2010 e agora estão com 985 mil, queda de 8% contra o crescimento de 9% na média nacional. No intervalo de tempo, cerca de 45 mil famílias deixaram o programa somente no Paraná. A tendência de queda também é realidade em Curitiba, que foi a única capital do Sul que registrou redução no número de beneficiários em todos esses anos.
INFOGRÁFICO: Veja o histórico de beneficiários do Bolsa Família na região sul
As causas para essa diminuição passam por melhorias no controle antifraude do cadastro, aumento da renda e descumprimento de exigências, como frequência escolar dos filhos e acompanhamento da saúde de crianças. Segundo Nircélio Zabot, coordenador de Renda e Cidadania da Secretaria da Família e Desenvolvimento Social do Paraná, os trabalhos de revisão cadastral e melhorias de condição de vida foram os principais motivos para esse fenômeno no estado.
"Com um monitoramento mais eficiente, os beneficiários que não precisam mais do programa têm o cadastro bloqueado. Também se verifica uma melhoria na renda dessas famílias, que não precisam mais do auxílio", afirma Zabot. O aumento de renda está ligado, diz ele, ao número de empregos formais criados no Paraná.
Apesar de uma tendência atual de queda em 2014, no ano passado o estado registrou crescimento de 3,5% no saldo de empregos criados na comparação com os dados de 2012. As informações são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Entre os estados brasileiros, o Paraná teve o terceiro melhor resultado, e só ficou atrás de Rio de Janeiro e São Paulo.
Outra razão para a queda na quantidade de beneficiários no Paraná está ligada a ações que visam evitar fraudes no programa. A professora Solange Fernandes, do departamento de Serviço Social da PUCPR, acredita que o recadastramento das famílias beneficiárias pode inibir essas ações, uma vez que bloqueia o pagamento a quem não se enquadra nos requisitos exigidos. "Toda suspeita de fraude deve ser investigada e o recadastramento evita essa prática. Também podemos supor que a melhoria de vida de parte dos beneficiários contribuiu para essa redução no Paraná", afirma.
O aumento registrado no Brasil em 2014 (passando de 13,8 milhões para 14 milhões beneficiários) ocorreu, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, devido à busca ativa para incluir famílias que estão em extrema pobreza, mas que até então não tinham sido localizadas pelos órgãos públicos. A meta é encontrar mais 150 mil famílias que têm o perfil para o programa, mas que ainda não foram cadastradas. Mesmo com busca ativa também no Paraná, o número de incluídos no Bolsa Família diminuiu por aqui.
Extrema pobreza
O último censo demográfico de 2010 apontou que 188 mil moradores do Paraná (1,8% do total) vivem com renda individual menor do que R$ 70 mensais. Eles fazem parte do público-alvo do Brasil Sem Miséria, programa complementar ao Bolsa Família que visa a tirar 16 milhões de pessoas no país da situação de extrema pobreza quando se vive com menos de U$ 1,25 por dia.
Balanço
Em 11 anos do Bolsa Família, 1,7 milhão de famílias beneficiárias de todo o país já deixaram o programa por meio do desligamento voluntário. Além disso, mais 1,1 milhão de famílias deixaram o programa porque não realizaram a atualização dos cadastros.
Falta de cadastro
Sem querer, diarista perdeu o benefício
Maria Eunice Pereira contribuiu, sem querer, para a redução no número de bolsas pagas no Paraná. Aos 31 anos, com quatro filhos, ela perdeu os prazos de recadastramento e teve o benefício cancelado há dois anos. Sem emprego formal, ela tenta manter sozinha a casa com cerca de R$ 300 que ganha por mês como diarista. A renda equivale a R$ 60 por pessoa, o que a faria ser uma provável beneficiária do programa.
"Eu recebi o Bolsa por três anos e me ajudava bastante para comprar comida e roupas para meus filhos. Podia, pelo menos, parcelar as contas para ter uma vida um pouco melhor", afirma Maria Eunice, que não chegou a concluir os estudos do Ensino Fundamental.



