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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Quando criança, vi na casa de parentes uma chaleira que apitava quando a água fervia. Para mim aquilo era novidade e achei, e ainda acho, muito engenhoso o sistema. Fiquei lá, ao lado do fogão, esperando a água ferver para ouvir o apito. Êta mundinho simplório em que vivíamos!

Na época, só havia dois utensílios domésticos que faziam ruído para chamar nossa atenção: a tal chaleira, que pouca gente tinha porque, afinal, não era assim tão importante, e o despertador.

Agora os aparelhos eletrônicos vêm equipados com bips, apitos e musiquinhas para nos obrigar a prestar atenção neles. Minha máquina de lavar roupa toca uma cançãozinha simpática quando termina o "serviço". O celular fica bipando dentro da minha bolsa para avisar que recebi uma nova informação. O problema, caro leitor, é que toda hora tem informação nova; 99% delas inúteis, dispensáveis, ainda que sedutoras. Como novas informações são sedutoras! Como gostamos de estar "por dentro". Ou melhor, como tememos ficar por fora... Oh, vergonha tremenda de estar desatualizado, de não saber do que as pessoas estão falando.

A exceção é quando o tema em questão é a vida dos outros – aí é até muito elegante mostrar-se desinformado. Nada mais elegante do que ser o último a saber da nova fofoca. Mas isso é minha opinião e deve ter quem discorde.

A maioria das informações que nos são oferecidas é bobagem, querido leitor. E quem lhes diz isso é uma jornalista que ganha a vida empacotando informação. Pois falo com tranquilidade porque há o joio e há o trigo.

Muitas informações até teriam seu valor em outro contexto, mas, no mundo de abundância em que vivemos hoje, precisamos escolher. Tem ruído demais, tem barulho demais a nossa volta. Pre­­cisamos decidir em que vamos focar nossa atenção porque isso vai acabar determinando coisas importantes na nossa vida. Estou exagerando?

Pense comigo: será que dá para ter algum pensamento menos fútil e passageiro em meio ao barulho e à agitação? Desconfio que não. Se focarmos no ruído, seremos superficiais como ele. Como você acha que aqueles "famosos" sem currículo entraram naquele estado de semidemência intelectual e moral que os leva a submeter-se a situações humilhantes? Focando no ruído, que não os deixou ver as coisas realmente bonitas e importantes que estão por aí. O ruído gera agitação, que é outro motor da superficialidade.

Enquanto lia sobre atenção para escrever este texto, encontrei esta frase: "A atenção é a forma mais rara e pura de generosidade". Quem a escreveu foi a francesa Simone Weil, que morreu aos 30 e poucos anos depois de impressionar meio mundo. Simone era um gênio e era também uma mística que queria fugir da superficialidade. Foi chamada por Albert Camus de "o único grande espírito do nosso tempo" – o tempo deles era a primeira metade do século 20.

O argumento dela é: oferecer sua atenção para alguém é oferecer algo precioso, que vai gerar um contato verdadeiro. Traduzindo a frase para os dias de hoje, seria o caso de se dizer: "Não checar o celular e baixar a tampa do laptop enquanto fala com alguém é uma forma rara e pura de generosidade, que vai fazer seu interlocutor se sentir muito especial".

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