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Há 74 anos, numa segunda-feira, os Estados Unidos e seus aliados na Segunda Guerra Mundial começaram a invasão da França num dia que viria a ser conhecido como o Dia D. Milhares de homens saltaram de aviões que sobrevoavam o interior da França, enquanto outros milhares chegavam às praias perigosas em lanchas de desembarque feitas de madeira. Muitos deles acabariam mortos ou feridos.

O dia 6 de junho de 1944 e os dias que se seguiram se tornaram um momento lendário da história dos EUA. Por mais que as contribuições do exército russo tenham sido inestimáveis no combate, para os Estados Unidos o Dia D viria a ser visto como o começo do fim da Alemanha nazista de Adolf Hitler, o momento em que os EUA e seus aliados derrubaram a Muralha do Atlântico e rapidamente avançaram para dentro do território francês, rumo a Paris, depois Berlim.

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Mas há um capítulo nessa história que muitas vezes se perde quando ela é recontada: uma operação menos conhecida, batizada de COBRA, que preparou o terreno para a vitória na França, mas começou com centenas de combatentes norte-americanos mortos e feridos, incluindo um general de alto escalão, num dos piores incidentes de fogo amigo na história do exército dos EUA.

O objetivo da operação COBRA era que o Primeiro Exército dos EUA, sob comando do general Omar Bradley, entrasse pelo sul, através das linhas alemãs que cercavam a vila de St. Lo.

COBRA marcou a primeira e única vez em que uma grande concentração de bombardeiros seria usada como reforço para unidades em solo. Até esse ponto na guerra, os Estados Unidos só haviam feito o que se chamava de “bombardeio de área”, e o general Dwight D. Eisenhower, depois do que houve com a operação COBRA, evitou que qualquer coisa parecida com ela se repetisse.

Paul Fussell, historiador e ex-membro da infantaria da Segunda Guerra Mundial, escreve longamente sobre a operação em seu livro, “The Boys’ Crusade: The American Infantry in Northwestern Europe” [“A Cruzada dos Meninos: A Infantaria Americana no Noroeste da Europa”, em tradução livre]. Segundo Fussell, o ataque estava agendado para 24 de julho, mas houve um dia de atraso por causa do clima nublado. Apesar do atraso, havia um número de bombardeiros que acabou decolando e, ao se aproximarem do alvo, vindos da direção errada – atacando perpendiculares à estrada, em vez de paralelos –, lançaram as bombas que mataram 25 soldados norte-americanos do 30º batalhão. Para piorar ainda, como escreve Fussell, o vento começou a soprar a fumaça de volta para cima das tropas norte-americanas.

No dia seguinte, 25 de julho, a operação começou de verdade, e a maioria das aeronaves da oitava divisão da Força Aérea dos EUA novamente atacou a estrada vindo da direção errada. Desta vez, o bombardeio aéreo, contando com o auxílio de mil peças de artilharia, deixou a estrada pulverizada, matando 111 soldados norte-americanos e ferindo quase 500.

Na medida em que os soldados tentavam evitar o bombardeio, fosse saindo de posição ou escavando abrigos dentro da terra, a divisão dos tanques Panzer alemães que fazia frente aos norte-americanos acabou sofrendo a maior parte dos ataques. “Meus granadeiros e pioneiros, minhas unidades antitanque, estão todos a postos. Nenhum deles abandonou a posição, nenhum”, diz aos seus superiores o general alemão Fritz Bayerlein, como cita Fussell. “Estão todos em suas trincheiras, parados e quietos, porque estão mortos. Mortos. Vocês estão entendendo?”.

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“As linhas de frente pareciam a face da lua”, disse Bayerlein mais tarde. “E pelo menos 70% das minhas tropas estava fora de combate – mortos, feridos, enlouquecidos ou atordoados”.

As consequências da operação COBRA foram registradas em filme com imagens de soldados norte-americanos tentando desesperadamente desenterrar seus amigos de debaixo do solo, após terem sido vítimas de um bombardeio de sua própria Força Aérea.

Porém, em vez de descrever a situação como aquilo que ela era de fato, a Associated Press colocou a seguinte legenda sob a foto: “Após bombardeio alemão, os ianques desenterram seus homens soterrados nas trincheiras”.

A foto desde então foi digitalizada e disponibilizada no serviço de notícias da AP, mas a legenda permanece quase a mesma: “Tropas americanas começam a desenterrar seus homens soterrados após bombardeio alemão, 25 de julho, 1944, em algum lugar da França”.

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